O MAGO E O MILIONÁRIO
                            “ Benvindo ao mundo dos mágicos, meu filho!”
                                                                         Bandler e Grinder

Pai Rebas era um velho ermitão que tinha a fama de feiticeiro e mago. Morava numa velha casinha ao pé de uma montanha onde recebia as visitas das pessoas que procuravam a sua ajuda para resolver problemas de saúde e questões psicológicas mais profundas.
A todos que o procuravam Pai Rebas atendia com cortesia e prontidão. Aceitava dinhei-ro de quem podia pagar e comida e outros presentinhos de quem não tinha.
Mas nunca negava atendimento a uns e outros nem fazia discriminação entre aqueles que pagavam muito e os que nada deixavam. Aos doentes de corpo receitava ervas e outras panaceias naturais; aos doentes de alma dava conselhos, construía metáforas e fazia outros passes, que a uns parecia mágica, a outros bruxaria, a outros simples rituais sem significado algum, mas que sempre acabavam gerando benefícios para quem os praticava.
A verdade é que ninguém saia da cabana de Pai Rebas sem se sentir melhor do que quando entrara.

Um dia o velho mago recebeu a visita de um homem muito rico. Chegou num luxuoso automóvel, acompanhado de vários seguranças, que ficaram do lado de fora da cabana, guar-dando a porta.
― Em que posso ajudá-lo, meu filho? ― perguntou o velho mago com o seu cativante sorriso e aquele ar de absoluta tranquilidade que nunca abandonava sua postura.
― Não sei se o senhor pode me ajudar ― disse o sujeito.
― Então por que veio me procurar? ― perguntou o velho mago, sem mudar de expres-são.
― Me disseram que o senhor é um bruxo, um sujeito capaz de fazer mágicas com as pessoas e eu fiquei curioso em saber se era capaz de fazer comigo o que ninguém ainda con-seguiu fazer.
― E o que eu devo fazer com você, meu filho? ― perguntou Pai Rebas, sem se alterar.
― Sabe, eu sou um sujeito muito rico. Desde a adolescência meu sonho era ganhar mui-to dinheiro e me tornar um milionário, amado, famoso e respeitado.
― E conseguiu tudo isso? ―perguntou Pai Rebas.
―Dinheiro e fama, sim. Formei-me na universidade aos vinte e dois anos, montei a mi-nha própria empresa e tive muito sucesso nos negócios. Minha marca está hoje em todos os países do mundo e ganho tanto dinheiro que ás vezes nem sei o que fazer com ele.
― Já experimentou financiar obras de caridade e ajudar outras pessoas a alcançar o mesmo sucesso que você alcançou? ― perguntou Pai Rebas.
― Já ―, disse o milionário. ― Tenho uma fundação que aplica milhões em projetos sociais que beneficiam milhares de pessoas ― respondeu o homem.
― Mesmo assim está insatisfeito, não é?
― Sim ― respondeu o homem. Descobri que não é esse o tipo de respeito que eu quero. As pessoas me recebem e me bajulam. Pedem conselhos, jornalistas escrevem a minha bio-grafia. Organizações pagam muito dinheiro para que eu dê palestras. Muitos jovens procuram me modelar. Mas eu sinto que tudo isso é falso. No fundo todos só querem é saber o tamanho do cheque que eu vou deixar para os seus projetos pessoais ou o que eu vou poder fazer por eles.
― Quanto aos relacionamentos ― continuou ele ―, já me casei e separei três vezes e não consigo me sentir seguro em nenhum casamento. Tenho a impressão que as mulheres que se aproximam de mim já vem pensando no montante da pensão que irão pedir no momento da separação.
― E o que posso fazer pelo senhor ―, voltou Pai Rebas a perguntar.
― Diga-me porque não consigo ficar satisfeito e depois faça um de seus trabalhos para que eu deixe de ter esse sentimento de frustração ― pediu o milionário, com um indisfarçável sarcasmo na voz.
― O que me você pede é uma mágica ― disse Pai Rebas, sem se alterar ― O Senhor acredita em mágicas?
― Claro que não ― disse o homem. ― Mágicos são embusteiros que enganam as pes-soas com truques de ilusionismo.
―Na vida tudo é ilusão, meu filho ― disse Pai Rebas. Tanto as coisas que eu faço quanto as coisas pelas quais você lutou a vida inteira. Assim, seja o que for que eu faça por você, tudo continuará sendo somente magia e ilusão.
― Então o senhor também é um velho enganador ― disse o sujeito.
― Sim, meu filho. Sou um velho mago que engana as pessoas. E a vida também é um mago que engana todo mundo.
― Então, se tudo que fazemos é ilusão, que nos resta da vida senão morrer? ― pergun-tou, desconsolado, o milionário.
― Essa é a única realidade da vida ― disse Pai Rebas. ― E se é essa a solução que você acha que lhe serve eu posso ajudar.
E, como num passe de mágica, fez aparecer sobre a tosca mesa que os dividia um velho revólver carregado.
O milionário empalideceu. ― Está sugerindo que eu me mate? ― perguntou o homem, surpreso.
― Eu não, a sugestão foi sua― respondeu Pai Rebas.
― O senhor é louco ― disse o milionário.
― Todos somos loucos em algum grau ― respondeu Pai Sebas.
―É só isso que pode me sugerir?― perguntou, decepcionado, o milionário.
― Há outra alternativa que pode resolver o seu caso ― disse Pai Rebas.
― Qual? ― Perguntou o homem.
― Aceitar que tudo na vida é ilusão e aprender a conviver com ela.
O homem permaneceu em silêncio durante alguns segundos. Depois, com um largo sor-riso disse:
― Entendi, Pai Rebas, o que o senhor quer dizer. Acho que eu consigo aprender a con-viver com a ilusão da vida.
― Muito bem, meu filho ― disse Pai Rebas. Você acaba de ser iniciado na seita mais competente do mundo: a seita dos mágicos, onde se aprende a conviver com a ilusão dos sen-tidos.
Foi então que aquele milionário se tornou também um grande professor. Hoje ele é um grande conferencista e escreve livros de autoajuda que vende milhões de exemplares todos os anos.
João Anatalino
Enviado por João Anatalino em 27/12/2010
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