Vida - Parte 1 de indefinidas partes.

Ele abriu seus olhos para mais um dia em sua vida, ou seria mais uma noite? Andava acordando tarde nesses últimos dias, o por-do-sol não era nada mais que mero despertador, juntamente com seu celular...

Às 17 horas, ressoava em seu apartamento, partindo de seu aparelho telefonico, aquele bom e energético heavy metal com o qual gostava de acordar.

Esticando o braço para o lado, pega o seu celular, espera aquela magnífica introdução, sem igual, com aquela bateria carregada de ritmos brasileiros e aquelas guitarras em perfeita sincronia lançando um riff delicioso, acabar e então dá fim ao despertador.

Se leva e senta na beira da cama, ainda sonolento, pondera entre dormir novamente, continuar a ler o livro que ganhara de natal, ou levantar e buscar algo para comer. Após tomar a última opção como decisão, vai até a sua cozinha e vê a boa e velha geladeira. Magnífica porta para um mundo de tentações e prazeres que ultimamente só estava dando desgosto e decepção. Como se não soubesse que nada encontraria abriu-a com toda sua esperança...

Então, ele pegou uma caixa de leite e misturou com café de um dia anterior e voltou para seu quarto. Ligou sua TV, rodou por todos os canais e nada o agradou, afinal, era domingo e o mesmo possuía apenas TV aberta. Recostara-se na parede, sentado na cama, e passara a mão em seu rosto, pensando em como já estava incomodado com aquela rotina de férias, sem nada para fazer a não ser ver seu precioso tempo passar e ter que voltar ao trabalho, que ultimamente estava consumindo-o bastante. Simplesmente nada acontece...

Era dia 28 de dezembro, sua mãe, sua avó materna e sua irmã, únicos parentes próximos, haviam passado o Natal em seu apartamento e já haviam partido para suas vidas normais e ele voltara aquela situação solitária. Seus amigos estavam casados com suas famílias, os solteiros estavam em viagem, mas ele não acompanhá-los, sua renda nunca fora boa o bastante para esse tipo de aventura.

Absorto em pensamentos, olhando para o nada, percebeu que já eram nova horas da noite e ficou perplexo em como ficou pensando por quatro horas e nem percebeu. "Esse costume de não fazer nada está realmente acabando comigo..." - pensou.

Pegara seu celular e punha para tocar suas músicas favoritas enquanto tomava banho para passar a noite lendo até pegar no sono novamente. Estava tocando seu álbum preferido, quando uma outra música diferente, de uma outra banda, começou a tocar em seguida. Por um momento, ficou pensando o que poderia ter acontecido com o celular... "Tecnologia..." pensava ele, quando então finalmente se tocou que era seu toque. O fato de nunca haver telefonemas fez com que ele até mesmo tivesse esquecido o toque que havia escolhido. Abriu a porta do boxe, escorregando pelo chão molhado, e apanhando o celular em cima da pia, olhou diretamente para o visor que dizia:

"Manu chamando..."

Sua mente embaralhou-se completamente naquele momento, o que poderia querer a Manu às dez da noite de domingo, se ela nem ao menos ligava para ele, apesar de se considerarem amigos próximos? Ele atendeu.

- Alô?

- Oi, Leo?

- Sim, sou eu Manu, o que aconteceu? - Perguntou preocupado.

- Nada, só queria saber como você está.

- Eu? Eu estou bem... é, eu estou bem. - Ficara perplexo com aquilo - E você, tá tudo bem mesmo?

- Sim, está tudo bem mesmo, seu bobo. Até parece que eu nunca te ligo para saber como você está! - Disse alegremente Manu. Se seguiram então, uns pequenos segundos em silêncio, que pareceram a ele minutos intermináveis, pois estava se sentindo constrangido pelo silêncio.

- Me diga, Manu, você não ia viajar para Westminster? Eu achei que você já estivesse lá. - Disse, tentando quebrar o silêncio.

- Eu desisti no último instante, sabe? Eu acho que já cansei de ir pra Inglaterra todo santo tempo livro que eu tenho.

- Você não sabe a sorte que tem em poder ir para a Inglaterra! - Falou ele alegremente, rindo de sua situação financeira.

- Haha! Eu entendo seu pensamento... Você está sozinho? - Perguntou repentinamente. Ele foi pego de surpresa pela pergunta, ninguém realmente nunca se interessara.

- Eu estou sim... aliás, eu sempre estou. - Então se seguiu mais um daqueles infinitos segundos de silêncio, até que a própria Manu quebrou o gelo:

- Você não quer me encontrar agora? Estou passando de carro, agora, em frente aquela praça que tem perto da sua casa. Me encontra ali na esquina e a gente resolve o que fazer. - Ele então se encheu de felicidade, ia sair da rotina, ia encontrar uma amiga, ia por as conversas em dia.

- Sim! Eu vou! Só vou por uma roupa aqui e já estou chegando.

Escolheu então sua melhor camisa, a que mais gostava, penteou seus cabelos, se perfumou e foi feliz ao encontro de sua amiga. De longe, avistara o carro da Manu, ela estava parada do lado de fora com um bonito e longo vestido vermelho de festa e nessa hora ele se perguntou o porque daqueles trajes.

- Manu! Que saudade! - Cumprimentou-a dando-lhe um beijo no rosto e um forte abraço. - Está bonita! Por que está tão elegante?

- Eu acabei saindo de uma festa naquele bairro perto do clube, aqui perto... Estava bem chata. - Ela então, abriu a porta do carro e entrou, indicando com a cabeça para ele entrar no outro lado. - Vamos até aquele pequeno bar que abriu próximo ao jóquei?

- Vamos, sim. Imagino que seja um bom lugar para conversar. - Disse satisfeito, mas ainda intrigado.

- Por isso que eu gosto de você, Leo, sempre topa tudo, a qualquer hora pra qualquer lugar. - Sorrindo e olhando nos olhos dele, disse ela.

E então partiram para lá.

Ronaldo Sidão
Enviado por Ronaldo Sidão em 27/12/2010
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