UM NOIVO RELUTAN TE

UM NOIVO RELUTANTE

Jesuíno era uma pessoa comum: nem muito alto, nem muito baixo, nem muito magro, nem muito gordo, afinal tudo nele estacionava nesse meio termo monótono; ele era o homem em cima do muro, nunca estava de um lado ou de outro, sempre naquele irritante meio termo e por isso nem agradava e nem desagradava.

Cidadão da cidade de São João da Trindade, ele entediava toda a comunidade com aquela mania de nunca expor com clareza suas idéias e muito menos tomar partido nos assuntos ou situações, porque para Jesuíno nada podia ser as claras, tudo tinha que ser disfarçado; em principio as pessoas achavam que ele era bobo.

Mas de bobo ele não tinha nada, era apenas escorregadio e falso e com o passar do tempo, todo aquele povo percebeu a verdade e passou a se afastar dele e Jesuíno foi ficando cada vez mais só; de uma hora para outra a solidão pesou e o rapaz não sabia como descer do muro e se integrar a vida normal da comunidade.

Aquele fulano só tinha uma qualidade: era rico e as mães das moças casadoiras se interessavam não por ele, mas pelo seu rico dinheiro, mas suas jovens filhas não queriam saber daquele protótipo do meio termo e ele se estava interessado em alguém ninguém sabia, porque até nesse assunto ele era indeciso.

Mas o tempo passa para todos sem pedir licença e passa rápido, de repente Jesuíno estava com quarenta anos e assustado com a possibilidade de envelhecer só acompanhado pelo seus teres e haveres; foi ai que ele resolveu arranjar uma namorada e conseguiu a atenção de Joaninha, que também já não era tão jovem.

Aquele namoro era totalmente fora do normal, Jesuíno marcava de sair com a moça, mas ficava em duvida, se nove horas era tarde ou era cedo, se vestia preto ou marrom e de repente já eram dez horas e ele avisava com um telefonema que não se sentia bem e que sairiam no dia seguinte; vez por outra ele aparecia.

Joaninha lia muitos romances e por isso esperava ganhar beijos roubados ou abraços inesperados, mas aquele namorado quarentão, apenas se assentava perto dela e nem tentava ser romântico, mas consciente de seus bem vividos trinta e sete anos e sabendo que ele podia ser sua ultima chance de se casar, ela agüentava.

O namoro mais sem graça do mundo, se sustentou por dois anos, e durante esse tempo Jesuíno tentava resolver se noivava ou não e no final ele pediu a moça em casamento e passou a pensar se casava ou não, mas Joaninha preparava o enxoval, e seus pais muito felizes com a possibilidade de ganhar um genro rico.

O problema era que o noivo continuava em cima do muro e não se decidia a marcar a data do casamento e lá se foram mais dois anos; finalmente a data foi escolhida e os preparativos foram feitos: o vestido da noiva foi encomendado, a festa foi providenciada, a igreja decorada e músicos contratados.

Finalmente chegou a hora daquele casamento de meia idade, os convidados encheram a igreja, a noiva esperando dentro do carro o noivo entrar, para ela entrar também, mas nada de Jesuíno chegar e depois de uma hora de espera, o pai da noiva foi até a casa dele ver o que estava acontecendo e se surpreendeu.

O futuro sogro encontrou Jesuíno vestido só com a cueca, assentado na cama sem saber se ia casar ou não, o homem se zangou e disse: como é Jesuíno, esse casamento sai ou não? o noivo respondeu: esse é o problema, porque ainda não tive tempo de resolver esse assunto, o senhor dá mais uns dias para eu resolver e eu resolvo.

O velho tirou um revolver da cintura e gritou: já resolvi, vista-se agora e vamos pra igreja, diante daquele argumento, o noivo se vestiu depressa e o casamento se realizou; já se passaram dois anos desses acontecimentos e Jesuíno ainda não resolveu o que fazer na noite de núpcias, mas rica Joaninha ficou e muito.

Maria Aparecida Felicori{Vó Fia}

Texto registrado no EDA

Vó Fia
Enviado por Vó Fia em 26/12/2010
Código do texto: T2692580
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