"UM SOLDADO DE AÇÃO SOCIAL" Conto de: Flávio Cavalcante

O SOLDADO DE AÇÃO SOCIAL

Conto de:

Flávio Cavalcante

Nesses dias anteriores o Rio de Janeiro tem sofrido muito com uma guerra quase que interminável. O caos na vida dos moradores do morro do alemão foi de partir corações. Mas por uma causa muito nobre. Depois da tempestade, o sol novamente voltou a brilhar e intensamente na vida de cada um morador da comunidade dominada pelo tráfico.

As histórias no meio da guerra. Podemos dizer que os bastidores têm causos que realmente daria pra escrever uma enciclopédia. Cada morador daquele que ficou em meio ao fogo cruzado, tem uma história pra contar de algum fato inédito. Esse nosso conto foi um fato real contado, não por um morador da comunidade e sim pelo irmão de um dos policiais do exército que foram designados pelo governo para invadir o morro.

Tratava-se de uma manhã bela para uns moradores distantes dali, mas triste para aqueles estavam diante de uma incerteza sem poder sair, sem ter como dar notícias para parentes. Ninguém sabia o que poderia acontecer. Sabia-se que as forças armadas estavam prontas pra ajudar na invasão. Com isso o pânico seria inevitável e cada um morador naquele dia de cão nem em pensamento colocaria a cara na janela para ver a beleza do dia. Eles nem tiveram tempo de pensar em contemplar a natureza. Embaixo da cama de muitos foi o refúgio para não serem alvejados por alguma bala “PERDIDA”.

Essa tensão e nervosismo também estavam de mãos dadas com todos os policiais que estavam invadindo o morro em meio aquela guerra, que parecia não ter um fim. Para uns, já se tratava de rotina; para outros seria um estágio na prática.

Dentre os policiais tinha o protagonista de nossa história. Veio de uma família muito humilde, serviu o exército como todos os jovens que completam a idade e acabou engajando na tropa, tendo a oportunidade de fazer cursos e daí depois de certo tempo fez uma bela carreira na vida militar. Seu salário, no entanto, já ajudara a sua família que era muito carente. Apesar de ter iniciado ganhando patente, o jovem militar era desprovido de experiência na vida prática e foi exatamente nessa invasão do morro que ele viu de perto como é uma batalha caso um dia viesse a ser convocado para defender a pátria em uma guerra. Ali não era um treinamento e por isso carregava consigo uma sessão de pavor. Medo de saber que poderia não voltar pra contar história.

O pouco que aprendeu nos treinamentos dentro do quartel tinha que ser aplicado fielmente como foi ensinado pelos superiores, a fim de ter uma grande chance de voltar pra casa contando a história pra sua família.

Todos estavam se preparando pra invasão. Nesse momento o tiroteio já começara de forma intensa. Via-se ao longo de uma estrada deserta muitos carros em chamas. Perto de uma vala de dejetos á céu aberto encontravam-se vários corpos, resultado do confronto.

O soldado inexperiente entrou, usou todas as técnicas que aprendera na corporação e adentrou por entre os becos estreitos, munido de um armamento pesado, assim como todos os seus compassas. Ele tinha informações que logo á frente era o ponto que se negociava todo tipo de drogas e foi orientado para ter cuidado, pois era um campo aberto e poderia ter bandido escondido em algum lugar camuflado.

Ao chegar ao campo, encontrou outro parceiro de sua equipe que vinha trazendo um bandido suspeito de pôr fogo em coletivos na grande cidade. E como o colega sabia do perigo que o amigo estava correndo até por se tratar de marinheiro de primeira viagem, pediu que ele voltasse com o bandido algemado para camburão que ele iria subir o morro com os outros.

Obedecendo ao que o colega determinara, aquele soldado de arma em punho obedeceu ao colega e começou a descer o morro com o bandido sob a mira de um fuzil. Saiu descendo o morro com o delinqüente contido. No caminho o delinqüente deu uma crise de choro e pediu pelo amor de Deus que o soldado não fizesse isso que ele estava fazendo; pois tinha família pra criar, falou numa filhinha que dependia dele no maior desespero e se jogou no chão fazendo a maior cena. Na cabeça do soldado passou um filme de sua infância de situação difícil, que seus pais muitas vezes não tinham o que botar na mesa pra eles comerem. Aquilo levou o dito soldado ás lágrimas e não se conteve em libertar o delinqüente ali mesmo, ficando com as algemas nas mãos depois que o delinqüente deu o pulo do gato e desapareceu do local num piscar de olhos. Logo em seguida chegou a patrulha e encontrou aquele homem em lágrimas e com as algemas nas mãos.

Os seus superiores perguntaram pelo delinqüente e ele contou a história que aconteceu. Resultado nada feliz para ele. Ás vezes um simples gesto errôneo na vida, temos como pagamento uma pena que pode refletir pro resto de nossa vida.

O soldado de boas intenções foi detido e condenado por ser conivente com o tráfico. Ficou preso e vai ficar por vários meses, vai ser julgado e condenado á vários anos de prisão só pelo fato de ser um cidadão que fez uma ação social num lugar inapropriado.

TRISTE SINA. QUE SIRVA DE LIÇÃO

Flávio Cavalcante

FIM

Flavio Cavalcante
Enviado por Flavio Cavalcante em 25/12/2010
Código do texto: T2690900
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