Tempo perdido
Quanto tempo perdido nas salas de espera? Quanto tempo custa à certeza que vai me tirar essas dúvidas? Tempo de vida perdido, tempo não vivido para viver mais. Tempo em que eu paro, penso, leio, escrevo, observo e tenho medo. Tenho medo do que mais desejo.
Eu anseio pelo fim disto tudo, pelo último suspiro que me privará dessa espera. Quando em uma consulta marcada e não realizada por falta de tempo estava o diagnóstico da minha doença.
Agora tenho pouco tempo de vida, mas ainda não sei. A dois anos, naquela primeira procrastinação, seria diagnosticado o início do meu câncer, agora em estado terminal. Não tenho esse tempo que estou a perder aqui e mal sei disso.
Em alguns dias padecerei em algum leito de hospital a sofrer a reação da química a destruir minhas células boas e ruins. Perderei ali, um por um, cada sinal de vida. A começar pelo rubor da pele, que estará pálida. Os lábios secos, assim como os olhos. Meus poucos cabelos sumirão por inteiro. Minhas pernas, meus braços, meus glúteos e meu abdome definharão.
Até que, por fim, o último lampejo cessará ao som estridente do aparelho de medição dos meus batimentos cardíacos, que acusará meu fim. E eu apenas não tinha tempo.