VIDA NOVA IV

Deitada em sua cama, ela olha para o teto branco. Branco como o seu futuro, pensa. Branco porque não tem nada escrito nele ainda. Ou tem? Sorri para si. Lembrando do que costumava dizer para suas amigas. _Vocês têm o futuro intacto! E isso é a melhor coisa que alguém pode ter. Poder fazer o que quiser com ele! _ Ela adorava dizer isso. A idéia de que se podia construir o futuro, moldá-lo com as próprias mãos era fascinante para ela. Boa demais para ser verdade. Um luxo que não estava a seu alcance. Até agora.

Levanta-se e, pela primeira vez em alguns dias, olha-se fixamente no espelho. Além dos olhos inchados, vê o retrato da frustração e da perda. _Como posso ter perdido tanto? Percebe subitamente que seu futuro não está mais intacto. Levará sempre as marcas das dores passadas e o medo das presentes e das possíveis futuras. Desvia os olhos do espelho, ao ver que uma lágrima torna a sua imagem ainda mais triste. Desejou, como se deseja água num deserto, que pudesse ser feliz, como sonhava ser quando era adolescente. _ Se um Anjo dissesse amém!

Volta a deitar-se. Concentra-se novamente no teto branco (branco como o seu futuro?) e, olhando mais demoradamente, percebe que ele... não é tão branco assim.