UM CONTO PARA O NATAL - O HOMEM FANTASIADO DE PAPAI NOEL ERA O.................................

UM CONTO DE FICÇÃO PARA O NATAL

É uma linda tarde de sol na cidade de São Paulo. A Dentista, doutora Giuliana, resolve telefonar para Francis, babá, e pede para que ela leve as crianças até o Shopping do Ibirapuera para encontrarem com ela e a sua mãe, dona Floime, para efetuarem algumas compras complementares, afinal de contas toda a família está de passagens compradas para passar o Natal em Nova Iorque e o ano novo em Orlando, na Califórnia, na Disney. Thalita, com treze anos de idade é a filha mais velha. Thamires, com dez anos, é a do meio e Túlio, o caçula da família, tem apenas sete anos. Todos eles não veem a hora de tomarem o avião para os Estados Unidos da América, viagem que já está programada há mais três anos.

Assim que chegam ao estacionamento do Shopping Center, logo na entrada principal eles se deparam com um homem fantasiado de Papai Noel atendendo uma fila imensa de crianças. Túlio, sapeca como sempre, resolve se desvencilhar da babá e das irmãs e entra na fila do Papai Noel; a espera é longa! Mas para quem está ainda na flor da infância, disposição é o que não lhe falta.

- Túlio saia já dessa fila! A sua mãe não vai gostar nadinha, se nós nos atrasarmos para o encontro com ela na loja combinada! Grita a babá Francis.

- Há, ela que espere! Nunca cheguei tão perto de um Papai Noel em toda a minha vida! Responde Túlio.

- Ela já está chamando pelo celular!

- Fale para ela esperar alguns minutos!

Thalita tenta demover o irmãozinho de ficar na fila do Papai Noel, mas não logra êxito em sua tentativa.

-Vou encontrar com mamãe e a vovó na loja combinada, e vocês ficam aí acompanhando este pirralho cheio de vontades; diz Thalita.

- Não vá se perder! Recomenda a babá que resolve,juntamente com a Thamires, entrar na fila do Papai Noel. Francis,enquanto aguarda na fila com as crianças,observa de perto o jeito do Papai Noel,e fica meio encabulada com a maneira dele se comportar.

– Parece que o conheço de algum lugar;pensa ela. Parece com alguém conhecido!

Enquanto isso,a fila anda gradativamente e quando chega a vez deles, o Papai Noel, já com um olhar exausto por já está cumprindo quase que uma jornada completa, vira para Túlio e para Thamires e diz: Que belas crianças eu tenho aqui na minha frente! Qual é o seu nome garoto?

- Túlio.

- Qual é o seu nome Garota?

- Thamires.

- E qual é o nome da linda Babá?

- Francisca, mas pode me chamar de Francis, responde.

De repente, do nada, Túlio e Thamires resolvem sentar, um em cada perna do Papai Noel,que fica surpreso com a atitude repentina dos meninos; Francis também fica espantada com a impetuosidade das crianças.

- Já que vocês sentaram nas minhas pernas fracas e cansadas, posso saber o nome da mamãe de vocês? Pergunta o homem fantasiado de Papai Noel.

_ A minha mãe se chama Giuliana, com G, em homenagem ao meu avô que se chamava Giulio, também com G,responde Túlio. Mas os nomes mais engraçados da minha família não terminam por aqui, complementa Thamires. A minha avó se chama Floime, a Irmã dela se chama Flaime e a minha Bisa se chama Floripes. E o que é pior, é o nome do lugar onde minha mãe nasceu, que se chama Pinhengo, muito engraçado!

Neste exato momento, quem tem uma atitude surpreendente é o homem fantasiado de Papai Noel que abraça fortemente as crianças e as beija na testa falando algumas palavras bem baixinho, quase que sussurrando ao pé dos ouvidos das crianças. A babá Francis, assustada sem entender nada, chama pelos seguranças. As pessoas que estão ali assustadas e indignadas, tentam tirar as crianças do colo do homem fantasiado de Papai Noel , e, por incrível que possa parecer, elas não se mostram nem um pouco assustadas e até retribuem os beijos do Papai Noel.

- Pedófilo!Tarado! Bêbado! Louco! Sem caráter! São os adjetivos gritados pela multidão de pessoas ali na entrada do Shopping Center do Ibirapuera. Após passados alguns minutos do início do incidente, chegam os seguranças com a polícia e levam o homem fantasiado de Papai Noel preso.

Dona Giuliana fica tão irritada ao saber do incidente que resolve demitir a babá. - Sua irresponsável! Grita. Este louco poderia ter machucado os meus filhos!

- Mamãe, diz Thamaires, ele tinha um olhar tão meigo e parecia ser um homem bom e ele não nos machucou quando nos abraçou. Senti o coração dele batendo muito forte quando falei o seu nome, o da Tia Flaime, o da Bisa Floripes e o nome engraçado da cidade! E quando falei Pinhengo, ele nos disse: Meu Deus, isto não pode ser verdade! E foi ai que ele me abraçou e abraçou o Túlio ao mesmo tempo, falando bem baixinho:Não pode ser verdade! Vocês são meus netinhos, meus netinhos, meus netinhos, meus netinhos e ai não entendi mais nada do que aconteceu.

Dona Floime, assim que termina de ouvir a narrativa dos meninos, pede para que chamem um taxi com urgência."Preciso ira até ao Shopping para saber mais sobre este Papai Noel." Mas como mãe, questiona Dona Giuliana – Depois te conto minha filha, mas tenho que saber de algo muito importante, rebate Dona Floime.

- Irei com a Senhora e seja o que for quero estar junto e não precisa chamar taxi nenhum, que o nosso motorista nos levará até o Shopping Center do Ibirapuera.

Assim que o motorista estaciona o automóvel no estacionamento do Shopping, Dona Floime, juntamente com a sua filha a Doutora Giuliana, vai até à administração do Shopping para falar com o gerente geral. Conduzidas por um segurança, mãe e filha adentram à sala da gerência e diante do mesmo, que solícito, as atende gentilmente. Dona Floime, assim que se senta na cadeira, começa a falar." Nós somos avó e mãe das crianças envolvidas no incidente com o Papai Noel hoje à tarde. O senhor nos poderia dar algumas informações sobre aquele homem fantasiado de Papai Noel?

- O Shopping vai indenizar vocês e já tomou as devidas providências judiciais quanto ao incidente, diz o gerente do Shopping, um tanto quanto receoso de que elas fossem reivindicar alguma coisa. O senhor Giuliano já trabalhava para nós há mais de vinte anos como Papai Noel, e era considerado o mais querido pelas crianças e os acompanhantes delas. Não sei o que aconteceu ontem! Talvez estresse ou coisa semelhante!

Dona Floime fica pálida ao ouvir o nome Giuliano.

- O senhor poderia me falar mais alguns dados sobre o seu Giuliano?

- Não minha senhora. responde mostrando certa resistência em atender o pedido formulado pelas duas senhoras. Trata-se de dados sigilosos e não posso estar repassando para alguém: Isto pode dar dá processo e eu posso ser demitido com justa causa. Informações só via judicial

- Sei. Mas como e mesmo o seu nome senhor? Pergunta dona Floime.

- Augusto Maia ,responde o gerente do Shopping.

- Pois é seu Augusto, é muito importante para nós, sabermos alguns dados sobre ele, mas não há necessidade! Eu mesmo vou falar alguns dados e se baterem com as informações do prontuário dele é só dizer basta dizer que sim e que não. Certo?

- Certo, concorda seu Augusto.

_ O nome dele é Giuliano Ferreira Pereira da Costa, nascido no município de Pinhengo, sub-distrito de São Pedro, ligado à comarca de Santa Maria da Vitória. É isto ou não?

Seu Augusto fica espantado! Mas como a senhora sabe de todos este dados? Pergunta.

- É uma longa história, responde dona Floime. Será que o senhor poderia dar o endereço dele para mim ou indicar para qual delegacia ele foi levado?

- Creio que a senhora não mais poderá falar com ele!

- Mas, por quê?

- Ele quando foi preso pela polícia militar, sentiu-se mal, foi encaminhado para o Hospital das Clinicas e acabou falecendo; foi um enfarte violento que o atingiu. Já estamos providenciando o enterro e assistência à família dele, complementa o gerente com um pesar na voz e no semblante, afinal de contas, mesmo incrédulo pelo incidente, sempre teve um carinho especial pelo Seu Giuliano.

Dona Floime se desespera! Doutora Giuliana não entende nada do que está acontecendo e ao ver o desespero da sua mãe e ao vê-la chorando, faz uma indagação:- Mãe fala o que está acontecendo para mim, estou voando nesta história louca sem entender patavina de nada!.

- Não posso falar ainda minha filha. Seu Augusto, pelo amor de Deus pelo menos me dê o endereço da residência do Seu Giuliano, preciso muito ir até lá saber uma verdade muito importante para a minha vida,a vida da minha filha e a vida dos meus netos.

Diante do desespero da dona Floime, seu Augusto lhe dá o endereço do falecido, e Dona Floime, com os olhos cheios de lágrimas, agradece ao gerente administrativo do Shopping e juntamente com a doutora Giuliana, pede para que o motorista as leve para o Jardim Comercial na periferia da zona sul de São Paulo.

Depois de quarenta minutos percorrendo o trajeto, através das avenidas do Ibirapuera, Vereador José Diniz e João Dias, estrada de Itapecerica da Serra , Avenida Elias Maas,já noite escura, elas chegam no Jardim Comercial, à frente de uma pequena casa modesta, indicada no endereço passado pelo gerente do Shopping Center do Ibirapuera,o senhor Augusto. Dona Floime desce com sua filha, a doutora Giuliana e bate palmas na entrada.

- Uma porta se abre e uma senhora, já cansada e combalida, com os olhos cheios de lágrimas as atende.

- Quem são vocês? O que querem aqui umas pessoas tão bem apanhadas? Tenho que ir ao velório do meu genro no cemitério São Luiz daqui a pouco, responde aquela senhora com o semblante enlutado.

- Gostaríamos de falar com a viúva do seu Giuliano, pede dona Floime.

- Ela já morreu também! Era minha filha.

- Nossa, meus pêsames senhora, mas precisamos conversar com a você sobre o seu Giuliano, e é muito importante para nós.

- Entre, por favor, pede a senhora, meio desconfiada. Meu nome é Palmira e eu era a sogra do Giu, como era conhecido por todos nós.

Floime e Giuliana entram na casa e se sentam em um pequeno sofá surrado pelo uso e pelo tempo.

- Gostaríamos que a senhora nos contasse tudo o que sabe sobre a vida do Giu, isto, dependendo do que a senhora nos contar, poderá mudar as nossas vidas. Ele teve filhos? Pergunta dona Floime.

- Sim, ele tem dois filhos. Um rapaz de quinze anos e uma moça de dezoito anos. Mas qual é o motivo de contar da vida do Giu para duas madames desconhecidas! Ele fez alguma coisa a vocês? Giu era um homem honesto! Defendeu.

- Como falamos, responde dona Floime, isto poderá mudar as nossas vidas e a de vocês, e posso lhe garantir isto e a senhora não se arrependerá!

- Bom sendo assim, vou lhes contar tudo, palavra por palavra. - Na verdade o Giu deixou a esposa grávida na Bahia, já nos meses de ela ganhar o bebê. Segundo ele, as coisas estavam meio difícil lá no Pinhengo, sem conseguir trabalho, em razão disto, ele resolveu vir para São Paulo arrumar um emprego, ganhar dinheiro e buscar a esposa e o filho ou filha. Mais tarde ficou sabendo que foi uma menina que havia nascido. Logo que aqui chegou, foi arrumando um emprego de faxineiro em uma oficina mecânica e, como era muito inteligente, passou para auxiliar de mecânico e depois para mecânico. Todo mês ele enviava dinheiro para a esposa e guardava um pouco na poupança. Já estabilizado, alugou uma casinha e já estava com ela toda mobiliada. Neste meio tempo, por ser muito esforçado e inteligente, foi promovido a gerente da loja de peças para automóveis . Ele já estava com as férias marcadas e viagem comprada para ir até a Bahia buscar a mulher e filha. Ele já sabia que tinha nascido uma bela menina e que fora registrada com o nome de Giuliana em homenagem a ele. Neste ínterim aconteceu algo muito ruim para ele. A polícia, atendendo a uma denúncia anônima, deu uma batida na loja de peças e prendeu todos os funcionários da loja. Todos foram acusados de receptadores de peças de carros roubados de desmanches, acusação feita pelos próprios sócios da oficina e da loja. Depois de cinco anos de prisão dos funcionários é que se provou que os sócios eram os verdadeiros integrantes da quadrilha de receptadores que, na iminência de serem desmascarados, jogou a culpa nos funcionários alegando que o chefe da quadrilha era o gerente, neste caso o Giu e que os empregados eram inocentes e não sabiam de nada com os roubos e desmanches de carros, mas, até aí, o estrago já tinha sido feito na vida de todos, inclusive do Giu. O Giu, quando saiu da cadeia, escreveu várias cartas para a família, mas não obteve resposta alguma. Triste e sem esperanças, e sem lugar e ninguém para ajudá-lo, virou morador de rua, até o dia em que conheceu a minha filha, que era catadora de lixo e juntos resolveram construir uma vida juntos. Ele sempre falava da sua esposa que se chamava Floime e de sua filha para a minha filha. Eles criaram uma cooperativa de catadores de papel e sempre na época do Natal, ele se vestia de Papai Noel no Shopping Center do Ibirapuera para faturar um extra até acontecer o incidente com as crianças, que presumo serem da senhora

Dona Floime não consegue conter as lágrimas ao ouvir o relato de dona Palmira. Giuliana também - Quer dizer que o "O HOMEM FANTASIADO DE PAPAI NOEL ERA O MEU PAI!" Fala com pesar, se debulhando em lágrimas. E que só vou conhecê-lo no caixão!

-É sim minha filha, completa dona Floime. Na verdade ele só sumiu da gente porque estava preso e quando vim para São Paulo fui direto para o endereço das cartas, mas ele não estava mais lá. Graças a Deus que achei uma alma bondosa que me acolheu e também acolheu você, senão estaríamos em maus lençóis.

Dona Palmira atônita não sabe o que falar! Dona Giuliana, percebendo o estado de surpresa em que ela se encontra neste momento com a revelação dos fatos, se antecipa e diz para ela: - Quero ir ao velório e enterro! Quero conhecer os filhos do Giuliano, meus irmãos e a partir de agora vou dar a vocês todo o suporte financeiro e afetivo, afinal de contas acabo de encontrar a minha nova família e que estava perdida e que eu não sabia da sua existência. Agora que o destino nos juntou nesta véspera de Natal não quero perdê-la nunca mais!

Ao retornarem para casa,o marido da doutora Giuliana, ao saber da história dá todo o apoio possível para a esposa, inclusive adiando a viagem à Disney para o mês de junho de 2011 afinal de contas ele também queria curtir o crescimento da nova família da esposa ,e, neste momento de luto, passar o Natal em casa era a melhor coisa do mundo para levitar a alma.

Já no enterro, o Túlio, despedindo - se do avô no caixão diz com os olhos marejados e com a voz embargada juntamente com a Thamires: – Adeus Papai Noel, nós não sabíamos que você"PAPAI NOEL ERA O NOSSO AVÔ"........ FELIZ NATAL LÁ NO CÉU VOVÔ NOEL!

Ambos beijam a face fria do avô que eles só conheceram agora no Natal no Shopping Center e no caixão, na hora da partida,o único momento entre avô e netos muito pouco tempo de afetividade e carinho, mas o suficiente para guardarem este momento para sempre na memória para o resto de suas vidas.

Luxfé