Ausência
Sentava ali todas as tardes, apreciava ficar um tempo sem fazer nada. Ócio criativo talvez. De fato não se importava em perder um pouco do seu tempo ganhando o que na maior parte do tempo perdia: sua companhia. A vida passava sempre tão depressa, necessitava dessa pausa sagrada. Naquela praça, naquele banco, nem sempre as mesmas flores, nem as mesmas pessoas. Ali ficava, só observando, silencioso, manso. Vez ou outra passava algum conhecido e lhe cumprimentava. Com um leve e sincero sorriso respondia, e continuava esperando o anoitecer. Não ignorava o mundo, unia-se a ele nesse silencio interior, próprio de quem sabe o valor do que é mínimo, do que passa despercebido aos olhos da maioria. Naquele momento não lhe importava a hora, o dia, o mês, o salário, o lucro, as perdas, os desejos, os sonhos, as ilusões, as preocupações, os medos. Nada tinha a desejar, tudo estava ali. Sentia-se pleno, não completo, mas tão si mesmo que não queria que tudo aquilo acabasse. O sol, aos poucos indo embora, em seus raios lançando o adeus e dizendo que talvez volte amanha, mesmo que não o queiram (sol prepotente). Aos poucos a escuridão cobrindo a vida, o luar tão manso cobrindo a pele, esfriando o sangue nas veias, trazendo sossego ao coração. O ar gelado entrando em seu corpo, a noite embalando seu profundo sono. José sequer percebeu, mas nada mais sentia. O sol nasceu no outro dia, mas ele não viu.