Uma vizinha inconveniente

Genaro é um sujeito muito vaidoso. Já entrou na terceira idade, mas não parece. E tudo faz para evitar que pareça. Dizem até que ele mergulhou no formol. Porque a sua aparência é a de uma pessoa que estacionou na segunda idade. Para ostentar esse peculiar semblante juvenil ele recorre aos milagres da moderna cosmética, transformando seus numerosos fios brancos em negros retintos. Jamais alguém, por mais perspicaz, dirá que está diante de um sexagenário. Quando ele se dirige aos bancos, com seu calhamaço de contas a pagar, para não dar na pinta de que já atingiu a melhor idade, entra naquelas quilométricas filas dos não idosos, comuns a todas as instituições financeiras. Abro um parêntese para informar que aqui na Soterópolis o Executivo Municipal baixou uma lei que limita em quinze minutos a tolerância dos clientes nas filas dos bancos. Inclusive ameaça aplicar multas aos infratores e interditar o funcionamento da instituição. Como se essas leis inócuas vingassem em Pindorama!

Para o bem da coletividade as filas devem continuar! São divertidas! Há quem até sacrifique seus preciosos momentos de lazer para entrar numa delas!

Mas, voltemos ao Genaro. Certo dia ele estava todo songamonga na fila dos clientes jovens, como costumeiramente fazia, quando uma vizinha sua que se achava na fila da terceira idade, berrou em altos decibéis: - O que você está fazendo aí nessa fila dos jovens, Genaro? Sua fila é esta daqui! A dos velhos! Todos que se encontravam no interior da agência bancária se voltaram, curiosos e perplexos, para a direção que a mulher encarava a fim de descobrir quem era o desafortunado ser que passava por tamanho constrangimento. O pobre homem ficou vermelho de vergonha, fulo de raiva e, intimamente, com uma vontade danada de esganá-la. Sem outra saída ele atendeu aos clamores daquela inconseqüente mulher e trocou de fila. Na nova fila ele foi alvo de outro vexame: devido a sua aparência tão jovial a atendente da instituição financeira achou por bem interrogá-lo sobre a sua idade.

- Já passei dos sessenta minha senhora!

Respondeu rispidamente.

- Que Deus lhe conserve com essa saúde meu senhor. – Disse. - Mas não me leve a mal: o senhor poderia me mostrar a sua identidade?

A contragosto ele retirou o documento do bolso da camisa e entregou à solicitante que, após ligeira consulta, comprovou tratar-se realmente de um sessentão.

Dessa vez o velhote que reluta terminantemente ser reconhecido como um sexagenário não teve escapatória. Por causa da inconveniência da vizinha mequetrefe ele foi posto numa tremenda saia justa.

Valmari Nogueira
Enviado por Valmari Nogueira em 17/12/2010
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