MEDO
Acordou no meio da noite e um arrepio de pavor percorreu todo o seu corpo. Não abriu os olhos. Ficou imóvel e tentou identificar aquela coisa que pesava do lado esquerdo do seu peito.
Uma mão! a constatação aumentou seu medo, já quase pânico. Podia sentir seu coração acelerado, pulsando em seus ouvidos. Tinha medo até de respirar. Meu Deus, (rezou mentalmente) fazei com que minha irmã entre aqui agora e acenda a luz! esperou. Nada aconteceu. Respirava com dificuldade, temia que a mão se movesse, caso ela começasse a respirar mais forte.
Tinha vontade de chorar. De gritar, talvez devesse mesmo gritar, pensou. Assim, talvez o dono da mão se assustasse, fugisse, quem sabe.
Os minutos de angústia iam passando e ela não via saída. Nenhuma idéia, nenhuma luz, nada.
E se ele estivesse armado? E se quisesse estuprá-la?
Esperava a qualquer momento ouvir a voz terrível do dono dessa mão, que ficava cada vez mais pesada sobre seu peito, mas não se movia. Apenas ficava ali, parada. E pesada.
Tinha que fazer alguma coisa, qualquer coisa. Mesmo que isso provocasse uma reação violenta dele. Sim, só podia ser ele, um homem, um assaltante, um bandido.
Apertava tanto os olhos fechados, que já lhe doíam.
Então, decidiu: ia estender lentamente a mão direita, até o botão do abajur ao lado da cama e ia acender a luz de repente. Talvez, com o susto, ele corresse. Talvez atirasse nela. Não importava mais. Qualquer coisa tinha que ser feita. Não suportava mais aquela angústia.
Bem devagar, foi esticando o braço direito, esforçando-se para não mover nenhuma outra parte do corpo, nenhum músculo, principalmente do lado esquerdo, onde aquela mão estranha já parecia pesar vários quilos.
Alcançou o interruptor. Imaginava o terror de ver diante de si a cara terrível desse elemento estranho.
Criou coragem, respirou fundo e acendeu o abajur.
De olhos arregalados olhou em volta. Nada. Não havia ninguém.
Olhou para seu peito e lá estava, cada vez mais pesada e agora com um leve formigamento, sua própria mão... dormente.