Conto de Natal – ESPERANÇA/ Para a família RDL
Meus estimados amigos e demais leitores, recantistas e outros,
Pensei na melhor forma de deixar-lhes a minha mensagem de Natal, em um breve poema, em um soneto, em ritmo de cordel e tantas outras formas. Contudo, decidi-me pelo conto, pois mesmo não tendo compromisso com a realidade do que é narrado, podendo recorrer à ficcão livremente, é mesmo de sonhos que quero falar-lhes. O sonho de ver um mundo mais fraterno, mais humano, mais igualitário e que não seja apenas o dia de Natal o motivo para doar um abraço, um carinho, mas em todos os dias de nossas vidas.
Pois aqui deixo o meu carinho para cada um de vocês, que vieram ao longo deste ano tornar os meus dias mais felizes, me trouxeram esperança, aconchego, incentivo, amizade. Obrigada!
Desejo-lhes e aos seus familiares, um felicíssimo Natal, cheio de esperança na paz que todos queremos conquistar.
No ensejo aproveito para comunicar-lhes que estarei ausente por alguns dias, pelo motivo de escassez de tempo, no encerramento anual de minhas atividades profissionais e a seguir por uns merecidos e esperados dias de férias. Já com saudades de todos, deixo-lhes o meu carinhoso abraço.
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ESPERANÇA
Não era um dia comum para a maioria daquelas crianças da Vila Esperança, de olhinhos brilhantes e afoitos. Naquela tarde de vinte e cinco de dezembro aguardavam e olhavam para o céu, entre a ansiedade e a alegria incontida, o pouso do helicóptero que traria o Papai Noel.
Do outro lado da cidade, no Condomínio Solidariedade, não menos ansiosa, roendo as unhas, alheia a euforia de outras crianças exibindo seus novos e sofisticados brinquedos, Estefânia olhava inquieta o seu relógio cor de rosa, presente que ganhara naquele Natal. Quem a observasse mais atento, perceber-lhe-ia na face, certa aflição. O que poderia afetar assim a mente de uma menina de apenas dez anos de idade?
A cena não passou despercebida. Lêda, a professora que morava naquele mesmo condomínio, não ficou indiferente. Aproximou-se de Estefânia, tocou-lhe a face carinhosamente, quando aqueles olhinhos aflitos a fitaram, perguntou:
- Que faz esta menina linda assim, tão quieta? Porque não brinca com os amiguinhos e não trouxe para o pátio os brinquedos que Papai Noel lhe trouxe?
- Estou esperando que venham buscar-me. Tenho hoje algo muito importante para fazer. Terei ainda muito tempo para brincar com meus vizinhos daqui, tenho outros amigos que preciso visitar hoje, respondeu-lhe a menina.
- Conte-me Estefânia, onde vai e o que fazer assim de tão especial?
- Sim professora, vou contar-lhe. Certo dia quando fomos ao Shopping Center, minha mãe e eu, para escolher meus presentes, apanhei um daqueles papéis de propagandas e nele vi o anúncio de um concurso de poesias, cujo tema era falar dos meus sonhos que queria ver realizados no dia de Natal. O prêmio seria passar a tarde de Natal junto ao Papai Noel, que sobrevoa de helicóptero e pousa em campos, nas comunidades carentes na periferia da cidade e ajuda-lo a distribuir os presentes. Pois bem, guardei aquele papel e chegando em minha casa comecei a escrever um poema. Não foi tão difícil, sabe D. Leda? Porque já estava realizando um de meus sonhos naquele momento, escrever poesia. Ganhei então o melhor dos presentes, fui a escolhida no concurso. Agora estou aqui esperando para realizar o meu outro sonho.
A professora Leda não sabia o que dizer, embargara-lhe a emoção. Apenas sorriu docemente, passou-lhe as mãos sobre os longos cabelos negros e afastou-se com os olhos marejados de lágrimas. A menina continuou ali sentada e insistentemente conferia o seu relógio. Faltavam ainda cerca de duas horas para que a viessem apanhar em casa.
Neste ínterim volta a professora acompanhada de todas as crianças que brincavam no pátio. Fizeram um círculo em volta de Estefânia e pediram-lhe que recitasse a sua poesia, também para eles. Ela ainda muito assustada, surpresa com tal pedido, ajeita o vestido branco de laços azuis e com a face corada, começa a recitar:
MEUS SONHOS PARA UM DIA DE NATAL
Não preciso de muitos presentes,
Só a minha poesia quero deixar,
Para meus irmãos tão carentes
E para eles o meu amor levar.
Meus amiguinhos amados,
Dois sonhos venho realizar:
Trazer meus versos falados
E o Papai Noel lhes apresentar.
Ele traz brinquedos na bagagem
E para cada um é especial,
Mas traz mais nessa viagem,
Muito além do material.
Ele traz importante mensagem:
Nunca deixem um sonho morrer,
A esperança pede passagem,
Para uma vida melhor nascer.
Sejam irmãos, cultivem a amizade,
Aos bons conselhos, obedeçam,
Pratiquem o bem, a solidariedade,
E a Deus, todo dia agradeçam.
Estefânia acabara de ler seu poema e olhara para todos em volta, que alegremente a aplaudiam. A professora que não conseguia conter as lágrimas a abraçou demoradamente, enquanto as crianças se afastavam correndo para suas casas.
Enquanto recobravam a emoção que ambas se achavam envolvidas, eis que vinham chegando novamente, os amiguinhos que antes a ouviram. Cada qual trazia nas mãos um brinquedo. Alguns eram novos e outros já usados, de acordo com o que seus pais lhes permitiram levar. Um deles trouxe também uma grande caixa, onde foram depositando um a um, os presentes que queriam doar para as crianças da Vila Esperança.
Estefânia chorava e sorria enquanto abraçava e agradecia aos seus amigos e a Professora Lêda, quando foi interrompida pelo chamado da mãe, dizendo que Papai Noel chegara e já estava pronto para a viagem da alegria.