Duas vidas e um Destino
- Era um pesadelo! Não podia viver com aquela crise de consciência. Ele não podia ter exigido isso dela. Foi loucura! Pensava a secretária, andando de um lado para outro na pequena sala do apartamento. Como eu pude ser tão estúpida? Eu devia ter pensado nos meus filhos!
Não demorou muito para que Artur fosse visitá-la naquela tarde. A mulher abriu a porta do apartamento e encarou o sorriso dele.
- Precisamos conversar. Disse Milena em alto e bom som.
- Está nervosa à toa. A voz dele transmitia aquela tranqüilidade irritante de sempre. Deixe-me ver a encomenda.
- Senhor Artur! Falou sério. Eu não posso mais...
- Hum! Lá vem bronca! Falou o homem olhando para as crianças que estavam na sala vendo televisão.
- A encomenda, por favor! Insistiu ele.
- Fiquem quietinhos que a mamãe tem que conversar com esse senhor. Disse Milena beijando os filhos.
Os dois caminharam pelo corredor estreito até o quarto dela. Artur segurou a mulher pela cintura e beijou seus lábios.
- Está assustada? Ele sorria como se tudo fosse uma brincadeira.
- O que você acha? A mulher abriu o guarda roupa e pegou uma caixa. Artur ajudou a colocar o objeto em cima da cama. Ele olhou o conteúdo e ficou satisfeito. A pasta amarela continha títulos ao portador.
- Maravilha! Disse o homem como se tivesse ganhado uma batalha. Você é ótima! Ele tentou acariciar os cabelos dela, mas Milena se afastou dele. O que foi?
- Nunca mais eu faço isso! Nunca mais! Entendeu? Falou nervosa.
- Tudo bem! Ele deixou a caixa de lado e foi até onde ela estava. A janela aberta mostrava um dia ensolarado, que não combinava com a temperatura no interior do quarto.
Os dois se olharam por alguns instantes e Artur puxou o corpo dela pra junto dele.
- Está com medo de que? Eu protejo você.
- Eu roubei a sua firma! Você não entende, não é? Como eu vou conviver com isso?
- Você não roubou nada! Só obedeceu as minhas ordens! Tentou amenizar encarando os olhos umedecidos de Milena.
- E se acontecer alguma coisa? E se descobrirem? O que vai ser dos meus filhos? Eu posso ser presa!
- Acha que eu vou deixar você numa fria? Eu não sou um canalha! E além do mais, tudo isso me pertence. Ele largou a mulher e mexeu no conteúdo da caixa. Milena ficou olhando de longe.
- Eu não vou guardar isso na minha casa! Não vou mesmo! Ele olhou sério pra ela, mas a mulher reafirmou sua decisão. E ponto final! Declarou. Artur riu do nervosismo dela.
- Precisa me ajudar! É importante! Confidenciou. Ela não podia resistir aquele olhar, aquele homem entrou na sua vida tão de repente e agora ela havia se tornado cúmplice de seus delírios.
Artur foi embora, mas não levou o dinheiro nem os títulos. Milena olhou da janela e viu o chefe sair na portaria do prédio. Quando o carro sumiu ao virar a esquina, ela fechou os vidros das janelas e deitou na cama.
- O que eu faço meu Deus? Pensou atordoada. Eu só queria trabalhar e pagar minhas contas... Só isso... Chorou.
Milena não podia fazer mais nada, apenas confiar nele. Confiar que Artur não a trairia, que ele a amava. Amanhã seria um outro dia. Ela voltaria para a empresa como se nada tivesse acontecido.