A mulher que não acreditava no amor
Conheceram-se pela Internet. Ele, nordestino; ela, paulista. Ele, romântico, sonhador, sempre à procura do seu grande sonho de amor. Ela, mulher liberal, moderna, anunciando aos quatro ventos: “Amor? Besteira! Meu negócio é tesão, paixão!...”
Separados por uma imensidão de terras e águas, Alexandre e Manuela, ele, por seu sonho de amor, ela, por seu culto a Eros, foram se aproximando um para outro através das conversas pelo MSN. Havia um forte interesse, uma forte atração, um liame, uma fatalidade – coisa em que Manuela não acreditava - empurrando um para os braços do outro e que assumia os nomes diversos de afinidade intelectual, simpatia recíproca, tesão, ou qualquer outro nome que se dê a esse misterioso e inconfundível fluido cósmico que atrai, prende e fascina dois seres que jamais se viram antes nesta vida.
Alexandre, romântico e adepto do sexo-só-com-amor, tinha, entretanto, o tesão no sangue, descendente de uma família nordestina de pais, avôs e bisavôs quase tarados, quase priápicos. Por isso, a genética falava mais alto quando via uma fêmea, especialmente uma fêmea bonita. Um rostinho bonito, um par de seios bonitos, um par de pernas bonitas, faziam-no arquivar rapidamente as suas valiosas teorias sobre “o-amor-em-primeiro-lugar” e acasalar-se, por horas, em formidável fornicação, com as donas dos rostinhos, dos seios e das pernas, conhecidas ou desconhecidas, com amor ou sem amor... .
Nunca se soube se Manuela, por seu turno, apologista do sexo-por-sexo, cujas primeiras coisas mais importantes na sua vida eram tesão-tesão-tesão, tornara-se assim por sequelas de um desastroso amor perdido. Nunca se soube também, se ela, a exemplo de tantas insensíveis devoradoras de homens, lia Vinícius de Moraes ou escutava Julio Iglesias, nos intervalos entre uma e outra transa, ou se vivia sonhando com uma casinha branca com flores nas janelas, depois que saciava o seu furor uterino.
De qualquer maneira, encontraram-se pela Internet. Um, querendo amar, a outra, somente transar. O romântico, mas prático homem do mundo, sabendo que ela abominava a palavra “amor”, propôs sexo virtual; a não-romântica aceitou, é claro – se ela vivia para o culto do tesão, por que não?
E se amaram muito pela Internet. E, de repente, não ficaram mais satisfeitos com as palavras picantes, calcinhas molhadas, visões de pênis eretos, vaginas e bumbuns pela tela do PC, e as delirantes masturbações de cada lado. Ansiavam por mais!...
Alexandre foi a São Paulo conhecer Manuela. Conheceram-se e ficaram gostando muito mais um do outro. O sexo real entre os dois revelou-se muito melhor que o sexo virtual. Pelo menos, para a cama, tinham nascido um para o outro!...
Mas, além da cama, eram um casal de pombinhos de dar inveja. Abraçados, de mãos dadas, percorreram ruas e avenidas de São Paulo, andaram na chuva, na garoa, fizeram piqueniques em parques, visitaram museus, dançaram em boates, beijaram-se - o famoso beijo de língua - em plena Avenida Paulista...
E Manuela começou a pensar. “Aquilo não era amor, com certeza. Ao diabo com essa história de amor! Havia tesão e muito química entre os dois! Mas, sem dúvida alguma, Alexandre, o eterno apaixonado, já estaria de quatro por ela!” Esperou que Alexandre a convidasse para acompanhá-lo na sua volta ao Nordeste. E por tesão, somente por tesão, ela iria...
Mas Alexandre não fez o convite. Parecia satisfeito e saciado de sua fome por Manuela e, satisfeito e saciado, voltava para casa. Com um aperto no coração, Manuela despediu-se de Alexandre no aeroporto e, ainda lá, esperou pela declaração de amor do impenitente romântico.
A declaração não veio, mas o avião com Alexandre foi...
Lágrimas rebeldes sulcaram o rostinho bonito de Manuela enquanto o táxi a levava de volta para casa. "Que era aquilo? O seu candidato à “paixonite aguda” tinha ido embora com um sorriso alegre e travesso nos lábios, e ela ficara assim, como uma nau sem rumo?"
Entrou em casa com ar distante, absorto, ainda enxugando as lágrimas rebeldes. Com certeza, lágrimas do tesão já saudoso. Não podia ser outra coisa... E convencida de que era apenas isso, tirou uma garrafa de vinho da geladeira, bebeu-a toda, ficou de porre, mas, estranhamente, chorou alto, e esbravejou contra o romântico, já em plagas nordestinas: - Desgraçado, desgraçado!...
Amanheceu numa absurda ressaca. O telefone tocou. Estremunhada, atendeu:
- Alô!
- Manuela, é você? É o Souza quem está falando. Vamos sair hoje, Manu, transar?
- Vá pro diabo que te carregue, seu cretino! Eu não sou objeto sexual, viu? Não sou só um corpo na cama, sou uma mulher, tenho alma, tenho coração! Quer se aliviar? Vai procurar uma vagaba num bordel!...
E, chorando, foi atrás de outra garrafa de vinho na geladeira...
Conheceram-se pela Internet. Ele, nordestino; ela, paulista. Ele, romântico, sonhador, sempre à procura do seu grande sonho de amor. Ela, mulher liberal, moderna, anunciando aos quatro ventos: “Amor? Besteira! Meu negócio é tesão, paixão!...”
Separados por uma imensidão de terras e águas, Alexandre e Manuela, ele, por seu sonho de amor, ela, por seu culto a Eros, foram se aproximando um para outro através das conversas pelo MSN. Havia um forte interesse, uma forte atração, um liame, uma fatalidade – coisa em que Manuela não acreditava - empurrando um para os braços do outro e que assumia os nomes diversos de afinidade intelectual, simpatia recíproca, tesão, ou qualquer outro nome que se dê a esse misterioso e inconfundível fluido cósmico que atrai, prende e fascina dois seres que jamais se viram antes nesta vida.
Alexandre, romântico e adepto do sexo-só-com-amor, tinha, entretanto, o tesão no sangue, descendente de uma família nordestina de pais, avôs e bisavôs quase tarados, quase priápicos. Por isso, a genética falava mais alto quando via uma fêmea, especialmente uma fêmea bonita. Um rostinho bonito, um par de seios bonitos, um par de pernas bonitas, faziam-no arquivar rapidamente as suas valiosas teorias sobre “o-amor-em-primeiro-lugar” e acasalar-se, por horas, em formidável fornicação, com as donas dos rostinhos, dos seios e das pernas, conhecidas ou desconhecidas, com amor ou sem amor... .
Nunca se soube se Manuela, por seu turno, apologista do sexo-por-sexo, cujas primeiras coisas mais importantes na sua vida eram tesão-tesão-tesão, tornara-se assim por sequelas de um desastroso amor perdido. Nunca se soube também, se ela, a exemplo de tantas insensíveis devoradoras de homens, lia Vinícius de Moraes ou escutava Julio Iglesias, nos intervalos entre uma e outra transa, ou se vivia sonhando com uma casinha branca com flores nas janelas, depois que saciava o seu furor uterino.
De qualquer maneira, encontraram-se pela Internet. Um, querendo amar, a outra, somente transar. O romântico, mas prático homem do mundo, sabendo que ela abominava a palavra “amor”, propôs sexo virtual; a não-romântica aceitou, é claro – se ela vivia para o culto do tesão, por que não?
E se amaram muito pela Internet. E, de repente, não ficaram mais satisfeitos com as palavras picantes, calcinhas molhadas, visões de pênis eretos, vaginas e bumbuns pela tela do PC, e as delirantes masturbações de cada lado. Ansiavam por mais!...
Alexandre foi a São Paulo conhecer Manuela. Conheceram-se e ficaram gostando muito mais um do outro. O sexo real entre os dois revelou-se muito melhor que o sexo virtual. Pelo menos, para a cama, tinham nascido um para o outro!...
Mas, além da cama, eram um casal de pombinhos de dar inveja. Abraçados, de mãos dadas, percorreram ruas e avenidas de São Paulo, andaram na chuva, na garoa, fizeram piqueniques em parques, visitaram museus, dançaram em boates, beijaram-se - o famoso beijo de língua - em plena Avenida Paulista...
E Manuela começou a pensar. “Aquilo não era amor, com certeza. Ao diabo com essa história de amor! Havia tesão e muito química entre os dois! Mas, sem dúvida alguma, Alexandre, o eterno apaixonado, já estaria de quatro por ela!” Esperou que Alexandre a convidasse para acompanhá-lo na sua volta ao Nordeste. E por tesão, somente por tesão, ela iria...
Mas Alexandre não fez o convite. Parecia satisfeito e saciado de sua fome por Manuela e, satisfeito e saciado, voltava para casa. Com um aperto no coração, Manuela despediu-se de Alexandre no aeroporto e, ainda lá, esperou pela declaração de amor do impenitente romântico.
A declaração não veio, mas o avião com Alexandre foi...
Lágrimas rebeldes sulcaram o rostinho bonito de Manuela enquanto o táxi a levava de volta para casa. "Que era aquilo? O seu candidato à “paixonite aguda” tinha ido embora com um sorriso alegre e travesso nos lábios, e ela ficara assim, como uma nau sem rumo?"
Entrou em casa com ar distante, absorto, ainda enxugando as lágrimas rebeldes. Com certeza, lágrimas do tesão já saudoso. Não podia ser outra coisa... E convencida de que era apenas isso, tirou uma garrafa de vinho da geladeira, bebeu-a toda, ficou de porre, mas, estranhamente, chorou alto, e esbravejou contra o romântico, já em plagas nordestinas: - Desgraçado, desgraçado!...
Amanheceu numa absurda ressaca. O telefone tocou. Estremunhada, atendeu:
- Alô!
- Manuela, é você? É o Souza quem está falando. Vamos sair hoje, Manu, transar?
- Vá pro diabo que te carregue, seu cretino! Eu não sou objeto sexual, viu? Não sou só um corpo na cama, sou uma mulher, tenho alma, tenho coração! Quer se aliviar? Vai procurar uma vagaba num bordel!...
E, chorando, foi atrás de outra garrafa de vinho na geladeira...