A Lua
O cenário era fúnebre. À sua esquerda havia uma grande árvore com as raízes erguidas e os galhos sem folhas. Seu olhar, porém, não pararia tão perto.
Sentado sobre uma pedra, vestido com um manto nego e com as mãos frias e brancas, Iago limitava-se a observar a lua e contar-lhe a sua dor. O que antes inspirava, agora escutava em silêncio. Eles nunca mais seriam os mesmos.
Há pouco menos de dois dias Iago se despedia de Emília. Ela iria para longe, talvez nunca se vissem, talvez nunca mais se amassem, talvez assim fosse melhor. Afastaria de si todas as chances de segui-la. Não se entregaria a tanto. Ela mesma deixara claro: “não me sigas, e eu lembrarei eternamente de ti”.
Emília estava doente. Não queria que Iago visse seu sofrimento durante o tratamento, e muito menos que a visse morrer. Ela não tinha mais esperanças.
- Oh! Minha lua, tão doce é o seu brilho que ilumina a minha alma, tão amarga é a certeza de ver-te todos os dias e não poder reparti-la com minha Emília.
Iago começava a chorar. Ergueu sua cabeça e secou a solitária lágrima que pendia de seus olhos. Não conseguiria se controlar mais.
Lembrou-se quando brincava com a pequena Emília. Desde então ele já a amava. Agora, adulta, o seu amor aumentou, e a sua dor tornou-se insuportável.
Ficou ali até que o dia amanhecesse e o sol despertasse mais uma vez, embora não iluminasse seu coração.
Voltou para casa. Lembrou-se que a havia deixado trancada, mas não era o que via. As janelas estavam abertas e o vento balançava as cortinas que Emília havia bordado há tempos.
Apressou-se logo a entrar, e vendo sobre o sofá a mochila de sua amada Emília, alegrou-se infinitamente. Ela havia voltado. Foi como se o sol voltasse a encher o seu coração de luz.
Iago a viu correndo da cozinha para os seus braços. Abriu-os com todo o seu coração e a segurou. Encheu-a de beijos enquanto ela repetia:
- Papai, que bom te ver. Estive com saudades. _ disse Emília.
- Agora vai ficar tudo bem, meu Amor!
Maio /2001
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