Incauto
Eu sou fraco, ando pelas ruas a buscar coisas perdidas. Eu tropeço, caio e trêmulo, me levanto com poeira nos joelhos. É a ânsia por chegar e conseguir levar vantagem no que posso e no que não posso. Eu invento estórias para me justificar, sou covarde. Afasto pessoas que precisam de mim, por querer ocupar meu tempo com frivolidades. Toda manhã recebo esculachos. Eu revido, mas enfim, me calo. A voz acusadora tem razão. Sou pífio, sou doente. Mas que ela não ouça minha concordância. Pois preciso ainda fingir ser íntegro. Vou levando essa farsa até onde agüento. Um dia, quem sabe, a paciência me falte e eu ponha um fim nessa tormenta. Essa mulher um dia vai me ver como ela sempre quis. Calado, pianinho e, além disso, engravatado.