O fim (parte II)
Toda a trajetória que desencadeou no seu fim neste instante já não importa. O que existe é o agora. O que ficou para trás já foi esquecido e não está na realidade. Passos que galgaram sua personalidade, uma viagem perdida, um encontro ao acaso, uma espera renitente, a realização repentina dos seus desejos, o prazer da presença, a dor da ausência, a aperto do abraço, o frio da carência, tudo isso inexiste aqui.
Seu corpo sem vida está a decompor-se na terra fétida. Onde estaria você a esta hora? São três da madrugada e estaria com seus amigos a beber e esperar ansiosamente por este seu derradeiro momento. Mas não haverá mais este dia. É tudo diferente agora, você tem outra morada. Nunca mais ouvirão seus passos, nem ao menos seus gracejos.
Você teve um fim por escolha própria. Já não lhe bastava mais estar vivo. A repetição das mesmas cenas causava-lhe um tédio profundo. A previsão da constante linearidade dos seus dias fazia-lhe querer por um fim nisto tudo. Assim o fez e não há volta. Aqui se inicia o seu final.