SONHOS DE NATAL
Por EstherRogessi
        
        
Era Natal...  Eu não entendia o porquê daquelas  crianças  bem vestidas, cheirosas  e acompanhadas, por pais, brincarem alegremente, nas praças e parques, enquanto que eu  vendia balas  descalço,  com roupas surradas e fome.  Algumas crianças corriam alegremente em suas bicicletas, outras brincavam com carrinhos.  Alguns tinham motor e uns botões...,  os seus donos  apertavam,  e os carros andavam sozinhos...  sem cordões.
Que bonito! Como eu queria brincar com eles...Às crianças sorriam. Eram tão felizes!  Conversavam eufóricas,  e mostravam os seus brinquedos dizendo:  – Foi o  Papai Noel que me deu!
 
Segurando o meu tabuleiro de confeitos, eu ficava a olhá-las pensando:  Papai Noel... Será que ele dá presentes aos pobres?
Comecei a conversar com uma das crianças  queria saber sobre papai Noel. Quando a mãe do garoto nos  viu conversando...   Gritou:  – Vem Marcos!
Ligeiramente, aproximou-se e  o pegou pelo braço,  levou-o  para longe de mim...   Eu queria perguntar tantas coisas ao Marcos... 

Ouvi falar de um homem bom, barrigudo e amigo das crianças; um velhinho que satisfazia os desejos de cada uma delas; que as fazia felizes.  Pensei:  no próximo Natal, eu vou fazer um pedido a ele.  
Ah! Como esperei o próximo Natal!  Enfim, chegou dezembro.  Perguntei  aqui,  ali, e acolá... Como fazer? Como ele vai saber o que eu quero e onde r onde moro?
 –   Escreve... Pede a ele!   –  Disse  Paulinho, o meu vizinho.  
Mesmo pobre, o Paulinho pediu um  brinquedo e Papai Noel atendeu. A mãe dele era doméstica e trabalhava na casa de uma professôra  que morava num bairro nobre da cidade.
 
Fiz uma carta, para o Papai Noel pedindo-lhe uma bicicleta. Escrevi e só Deus entendeu:  – Quero nova, como as das crianças da praça; um carrinho para os meus irmãos e uma boneca para a minha irmã.  
Pensei:  se os brinquedos dos meninos da praça são novinhos, os nossos também  serão.
 Paulinho, o meu vizinho, falou que pediu um carro de bombeiros,  e colocou o pedido dentro do seu sapato.  – Paulinho...  Eu não tenho sapatos,  posso colocar dentro das minhas havaianas?
 – Acho que sim!

Coloquei  e quase que não dormi. Não pelo desconforto,  eu dormia apertado entre os meus cinco irmãos, em um colchão velho  no chão de barro batido, mas pela ansiedade. Eu queria ver a alegria dos meus irmãos,  e também,  poder andar de bicicleta. Eu tinha só sete anos de idade, mas trabalhava, ajudava a minha mãe vendendo balas,  para ajudar o nosso sustento;  sentia-me responsável  por eles.

Amanheceu,  e... Nada! Nenhum presente, nem bicicleta,  nem carrinhos, tampouco a boneca...  Que decepção! 
Chorei e chorei muito! A minha mãe chorou comigo, ela era diarista e no dia seguinte, lá vem ela..,  de uma casa onde trabalhou, com uns pacotes, tão diferentes daqueles  das lojas... Uma  boneca  velha e careca, para a minha irmã,  e uns carrinhos com as rodas quebradas para nós, os meninos.

Entendi que papai Noel não é o mesmo para todas às crianças.  Ele dá brinquedos ricos para as crianças ricas e pobres,  para as crianças pobres... E,  muitas vezes, não dá nada!
 
​O real entendimento desse fato veio depois... Muito depois, quando eu cresci.  Descobri que Papai Noel  é só fantasia... Doce, ou amarga.



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EstherRogessi
Enviado por EstherRogessi em 06/12/2010
Reeditado em 13/12/2015
Código do texto: T2655975
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