E TUDO SE ACABOU DEPOIS DE QUARTA-FEIRA

Ana e Hugo, estudantes de Medicina, namoravam há pouco tempo.

Ao conversarem sobre onde passar o Carnaval, Ana percebeu que a relação estava diferente e deixou a critério de Hugo a escolha do lugar. Ele decidiu que passariam juntos e escolheram a casa da mãe dela, num sítio nos arredores de Juiz de Fora.

Foram comprar as passagens na quinta-feira, chegando ao guichê da empresa encontraram esgotadas. Sem outra opção, compraram de outra empresa, passando pela cidade por outro trajeto. Assim, deveriam desembarcar no meio do caminho e pegar outro ônibus.

Na quinta-feira, ela estava de plantão no hospital, precisava concluir o trabalho a ser apresentado num seminário da faculdade na sexta-feira de manhã. Solícito, ele se encarregou de preparar as ilustrações.

Na sexta-feira à noite, Ana gostaria de ver um filme, porém Hugo marcou uma saída com amigos, ela não se importou, deixando-o livre ficou em casa e repensou o namoro, sentindo que coisas realmente não estavam muito bem entre eles.

No dia seguinte, sábado, data da viagem, foram para a rodoviária por carona do namorado da irmã dele chegando uma hora antes do embarque às dez horas. A rodoviária estava repleta, o calor era insuportável.

Ana desconhecia a localização da plataforma de embarque, e os dois andaram pra lá e prá cá, quando descobriram a escada, desceram e esperaram mais algum tempo porque o ônibus não estacionara. Quando um ônibus encostou, correram e subiram, para constatar não ser o deles. Meia hora depois o ônibus estacionou e puderam embarcar. Iniciaram uma viagem tranquila, ela ouvindo música e ele lendo. Uma hora depois, o ônibus fez uma parada, e Ana ligou para a mãe pedindo para buscá-los em determinado ponto do trajeto e informando o horário da chegada. A mãe, toda feliz, saiu para a estrada.

A viagem prosseguiu até certo trecho, quando Ana, saiu da poltrona e se dirigiu ao motorista, pedindo-lhe para parar no lugar em que a mãe deveria pegá-los.

O motorista, muito gentil, sugeriu ser melhor descer no terminal rodoviário da cidadezinha por onde passariam. Ela insistiu no pedido, pois deveria parar na pracinha já conhecida, perto da linha de trem, pois sua mãe já estaria à espera. Após alguns minutos a pracinha não passou e o motorista avisou que a cidade estava acabando.

Muito tensa e preocupada com a reação de Hugo e, sem saber onde deveriam realmente saltar, viu passar na estrada, em sentido contrário, o carro da mãe. Da janela, apontando para o carro, gritou pela mãe. Em vão.

O ônibus prosseguiu por mais algum tempo, até o motorista avisar a mudança de trajeto para pegar outra estrada no próximo entroncamento, assim se distanciando de Juiz de Fora.

Ana, apreensiva, concordou em saltar no entroncamento e aguardar, imaginando que a mãe poderia retornar e encontrá-los.

Enquanto isso, a mãe estacionou próximo ao terminal rodoviário da cidadezinha, aquele sugerido pelo motorista, e ficou esperando a chegada do ônibus. Passaram-se minutos, hora, hora e meia, e nada do ônibus. Ela admitia atraso do ônibus por congestionamento na estrada causado pelo movimento do carnaval.

Perguntava aos motoristas dos ônibus que ali estacionava se haviam visto o ônibus tal, da empresa tal, do horário tal. Ninguém vira.

Apavorada, a mãe começou a parar na estrada qualquer veículo, carro, ônibus ou caminhão perguntando se havia algum acidente na pista, blitz, ou outro incidente que pudesse ter atrasado o ônibus da filha. Tudo normal para vésperas de Carnaval.

A mãe teve a idéia de comprar um cartão telefônico e ligar para casa. Na ocasião ela não dispunha de aparelho celular. Fez dezenas de ligações para casa a cada cinco minutos, até que três horas mais tarde ouviu a voz de Ana, já havia chegado. A mãe toda feliz retoma a estrada de volta.

O desencontro ocorreu porque enquanto a mãe se desesperava no terminal rodoviário, os dois desistiram de esperar e tomaram um ônibus qualquer com destino para Juiz de Fora.

Ao chegarem à cidade, rumaram ao ponto do ônibus que os levaria ao sítio. Há uma única linha, os horários muito espaçados. Esperaram exaustos no ponto, quando viram o ônibus do outro lado e o perderam.

Atravessaram novamente para aguardar por quase uma eternidade o retorno. Ele parou no ponto do lado contrário ao que estavam, correram e conseguiram alcançá-lo.

Ao chegar, Ana soube das ligações da mãe e aguardou por outra para informar sua chegada. Quarenta minutos depois a mãe chegou, e com uma máscara de Carnaval no rosto, dizia: “Me fizeram de palhaço”.

Na terça-feira retornaram ao Rio de Janeiro, pois tinham plantão no hospital.

Hugo esqueceu sua carteira com Ana, que “xeretando”, acabou por encontrar duas fotos de mulher, escondidas e viradas de cabeça para baixo. Ela teve um surto de ciúmes, porém o que mais a enraiveceu foi ver as fotos viradas.

Ao ser questionado, disse ter se esquecido de guardá-las e, para não deixar Ana chateada, achou melhor escondê-las com as faces viradas.

Ana replicou ser uma indelicadeza; ela, em seu lugar teria retirado as fotos da carteira, colocaria noutro lugar, guardaria no porta luvas do carro ou no porta malas, esconderia no sapato, na meia, dava um jeito mas não as deixaria na carteira. Eram fotos da ex-namorada recente de Hugo; Ana supunha que poderia haver algum clima de envolvimento, pois eles terminaram o namoro quando ele começou a namorá-la.

Na quarta-feira de cinzas, foram dar o plantão, Hugo num hospital e Ana em outro. Ela ainda estava chateada, mas combinaram de sair para almoçar, entretanto não se encontraram por motivo de uma emergência.

Na quinta-feira, foram a um barzinho e Ana pediu a Hugo uma definição: prosseguir com o namoro ou não. Estaria ainda ligado à garota das fotos? Ele pediu tempo para pensar na resposta. Não se falaram na sexta-feira.

No sábado, combinaram sair juntos, mas ele explicou que se encontraria antes com a galera ‘das antigas’, o pessoal da faculdade.

No horário combinado, nove horas da noite, Ana recebeu a ligação de Hugo avisando que cancelava o encontro, preferindo continuar o papo com a galera, porque estava muito bom. Ela entendeu ser o fim do namoro.

No domingo, dia do desfile das campeãs, eles terminaram.

Do curto período de namoro resta a lembrança desta viagem de carnaval.