Em busca do Ser na Chuva.

...Chovia...chovia. E de repente eu caí num sono profundo... Percebi então, após acordar ainda sonâmbulo e meio zonzo, ainda sem saber identificar o que se passava e onde me encontrava que algo de estranho havia me ocorrido, num tempo e num lugar não identificados; ou até mesmo perceber o meu verdadeiro eu.

O sol estava escaldante qual a minha personalidade vacilante. O suor escorria sobre minha face, ofuscando as minhas vistas, e então percebi que não mais podia distinguir o que se passava ao meu redor.

Ora estava em pé ora me encontrava deitado. E neste esforço em me manter sóbrio, aumentava mais o meu estado de exaustão, como se estivesse numa maratona em pleno Saara, onde o verão é estação permanente.

Vivo este verão escaldante em minha vida. Não há brisa nem inverno, cujas chuvas pudessem levar pra longe os resíduos exalados pelo meu suor e fadiga. A primavera talvez fosse um sonho, uma esperança renovadora. Vejo então, um outono seco.

Sinto a minha seiva se esvair. Os meus pés sangram já calejados pela aspereza deste solo; meu coração acelera, minha mente oca, e o meu corpo em estado de torpor se desfalece e não consegue erguer-se; mau se locomove mas sem rítimo e sem comando.

Sinto o dia escaldante, e uma noite escura de aurora longínqua. Não posso mais sentir, não posso mais ter paladar, me sinto um tronco arrancado do solo, inerte.

Como tronco vou esperar o outono passar para alimentar a minha esperança de colher novas flores; não deixarei minhas folhas desabarem tal qual o nosso amor.

Trarei você para esta sombra, e, ao sentir a queda destas folhas, entenderá a queda também que senti.

Na primavera tudo irá recomeçar.

Mas ao chegar o inverno, irei torcer por uma tempestade, para que eu me renove e me restabeleça para uma nova etapa de vida, pois a chuva me traz saudades de um lugar de onde eu pude ver e sentir as montanhas, com as quais eu conversava com voz de tom bem sereno para não atormentar os pássaros que nelas se abrigavam e que também confabulavam, como a natureza iria se restabelecer após a passagem do homem por aquelas bandas.

Oportunamente, o rio me embalava com sua cantiga de ninar e me levava para sonhos longínquos em embarcações de louças e peixes coloridos trilhando os nossos caminhos para chegarmos em portos onde a natureza ostentava toda a sua oponência e majestade.

Ao acordar senti que a chuva já se ia embora.

- já posso sentir a sua toada no pé da montanha, acho que devo acordar de vez e ir correndo pra buscar essa chuva e nela reencontrar o meu verdadeiro ser.

Paulo Acácio
Enviado por Paulo Acácio em 01/12/2010
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