estranha liberdade

Era uma noite fria, e Frederico, cansado de toda aquela esbórnia em que havia se metido desde sexta-feira, retornava para casa com um sentimento de arrependimento e angustia que lhe dominava até o fundo d’alma. Como podia se sentir assim, depois de ter passado praticamente três dias cercado por belas mulheres, bebendo champanhe Francês e cheirando a melhor cocaína que o dinheiro podia comprar? Ele mesmo não entendia aquele sofrimento atroz e impiedoso em que se encontrava, e, ao invés de trilhar o caminho que comumente o trouxera à sua casa inúmeras vezes, decidiu que talvez seria melhor tomar outro rumo; e assim fê-lo. Não tinha a mais ínfima idéia para onde estava indo, e isso até chegou a confortá-lo por algum momento. Finalmente chegou, enfim, a algum lugar. Todavia, atônito e confuso, não sabia onde estava: “as mercês... quem sabe, talvez...” não, não sabia ao certo, e isso o desconcertou. O que outrora o confortava, lhe causava agora ojeriza, nojo mesmo. Pensou consigo que talvez a melhor coisa a ser feita naquele momento sombrio em que se encontrava a sua pobre carcaça, seria retornar para casa. Mas como? Se não havia mais casa! Pensou na mulher, mas a mulher o abandonara já havia mais de dois meses e com ela, foram-se os filhos que lhe eram tão queridos e preciosos. Estava só. É realmente hilário o modo como o espírito humano apreende as circunstâncias, as digere e, logo após, as amontoam em um espaço reservado ao conformismo e a resignação. Frederico, naquele momento, sem dinheiro, mulher e filhos, sentiu-se profundamente livre. Não é demasiado fácil chegar ao fundo do poço. Mas, uma vez lá, entrementes, a sede por liberdade se torna muito mais cruel e insaciável. E como disse certa vez um personagem cujo nome não me recordo nesse exato momento: “é quando se perde tudo que nos percebemos fugazmente mais livres.”

Fc
Enviado por Fc em 23/11/2010
Código do texto: T2632170
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