A História de Maria

Ela não se casou, mas, quis ser mãe.

Maria não se casou, não se sabe o motivo, mas, quis ser mãe.

Naquele dia se dirigiu a uma favela próxima à sua casa e trouxe de lá aquela que seria a sua filha. Criou com carinho e amor, viu nascer o primeiro dente, viu os primeiros passos, ouviu as primeiras palavras, levou a escola à primeira vez, chegou à adolescência e com ela todos os problemas que a acompanhavam (drogas, más companhias...).

A filha de Maria se perdeu, neste mundo cheio de ofertas, e Maria tentou correr atrás do prejuízo, mas, já era tarde demais.

Veio o primeiro, o segundo e o terceiro neto. E ela passou a cuidar dos netos também, mas a bomba na cabeça de Maria, foi a prisão de sua filha.

Maria trabalhava, cuidava dos netos, aos domingos visitava a filha e com muito trabalho conseguia comprar algumas coisas para levar na prisão.

Pois as condições eram parcas, pois ela trabalha na rua vendendo bugigangas (em certos dias me confessava ter vendido apenas cinco reais).

Quando a sua filha conseguiu liberdade condicional Maria ficou feliz, tentou colocá-la pra vender bugigangas, mas ela não quis e um dia desapareceu, mas chegou a ligar algumas vezes para dizer que estava tudo bem.

Mas coração de mãe não se engana, Maria sabia que nada ia bem e veio a notícia de que sua filha estava presa outra vez. Maria desanimou e prometeu não visitá-la mais. Os netos estão crescendo, a mais velha já está na adolescência e não agi diferente da mãe. Maria esta preocupada, pois já não tem tanta saúde para lidar com certas coisas...Tenta conversar com a neta diz pra ela não seguir o mesmo caminho da mãe, pois no final todos sofrem muito.

Além do mais, tem outro problema, é que quando está muito frio ou chovendo, as crianças menores ficam com a mais velha em casa e os vizinhos a denunciam para o conselho tutelar alegando que as crianças ficam sozinhas em casa.

Onde Maria mora é tudo muito difícil, não tem escola próxima, não tem ônibus próximo e ainda tem que subir uma distância razoável morro acima e por vezes ela acha melhor deixá-los em casa.

O conselho tutelar aparece quando famílias têm problemas, mas não é para ajudar e sim para criar novos problemas.

Maria vai seguindo, matando um leão por dia para cuidar, alimentar e educar os netos, pois da filha já lavou as mãos. Conversamos sempre e eu falo pra ela que ela tem um lugar reservado no céu, que Deus vai dar força para ela terminar o que ela começou, por que a princípio ela só queria uma filha... Mas, acabou ganhando quatro.

Quem passar pela avenida Rubens Caramez em Itapevi vai ver a Maria sentadinha com sua banquinha de bugigangas, esperando que alguém compre alguma coisa pra ela levar o leite e o pão para casa. Ela é muito falante e tem muito senso de humor, sempre me conta coisas muito tristes da sua vida, mas não perde o bom humor e por vezes damos boas risadas.

Você sabe quantas Marias existem por ai? Muitas, mas vivem todas no anonimato e quando alguém se aproxima não é para ajudar, é para jogar pedras. Vejo as crianças todos os dias, me parecem saudáveis e bem alimentadas, vão a missa aos domingos e vão à escola, pois se faltarem muito, perderam o “bolsa família”, que é uma renda a mais para Maria cuidar deles.

Devemos pensar bem nas nossas escolhas, pois elas podem mudar nossas vidas para sempre!