Vida.

Você conhece alguém perfeito?

Eu não.

Eu, e ninguém a minha volta o é.

A minha volta há mesmo a imperfeição.

Das pessoas.

Das coisas.

De mim.

Do amor.

Dos sentimentos.

Chamo-me Charles.

Tenho vinte e oito anos.

Sou administrador de finanças de uma empresa.

Sou solteiro.

Tenho uma filha.

Alicia.

Maldosamente idêntica à mãe.

Cinco anos.

Débora morreu no parto.

Eu morri no parto.

Alicia nasceu.

Eu tive de ressucitar.

Minha vida é dura.

Não consigo olhar minha filha.

Não por muito tempo.

Fumo.

Como uma chaminé.

Estou morrendo.

Mas não posso ser egoísta.

Por Débora.

Por Alicia.

Por eu.

Ela cresce.

Declino-me.

Ela me sustenta.

Eu choro.

Ela chora.

Ela dorme.

Eu choro.

Ela cresce.

Vou morrendo.

Vai crescendo.

Vai aprendendo.

Vou esquecendo.

Vamos vivendo.

18/XI/2010