Letras
Sempre se perdia caminhando entre verbos. Os adjuntos se escondiam na frase, brincando de esconde-esconde na prova de gramática. Quando queria expressar modo, o advérbio que surgia era apaixonadamente, pois foi assim que viveu toda a sua vida. Tinha uma gramática com as folhas surradas e amarelas do tempo de uso, as regras de acentuação ainda eram antigas. Tinha um amigo, professor de português, que insistia que a linguagem partia da regra e não do estudo da fala. Não gostava de análises sintáticas, morfológicas, sujeitos, predicados, apostos, adjuntos adverbiais ou adnominais. A escrita lhe impressionava, a capacidade de fazer viajar, a capacidade de mostrar quem era sem ser julgada, a história escrita nas entrelinhas.
Sua tendência para exatas a levou para um pesado curso de física o qual lhe dava muito prazer. Nunca se afastou da odiada gramática, a paixão pela literatura a convenceu que o esforço em estudá-la era válido. Andava cabisbaixa pela faculdade, encontrou o amigo que cursava ciências sociais, beijou-o, e seguiu seu caminho.