Objeto voador não identificado!

Ao cair da tarde, Ana e seus filhos faziam o culto doméstico. A oração inicial, a leitura bíblica era feita pelo esposo, que dava prosseguimento ao culto. Quatro crianças sentadas em banquinhos de madeira ouviam em silêncio. Marcos e Marta eram gêmeos e tinham oito anos. Lucas tinha sete anos e Maria apenas cinco. Os dois alunos maiores eram alunos da Escola Dominical e já sabiam se comportar e ter reverência na hora do culto. Quanto aos dois menores era preciso um pouco mais de paciência, e às vezes, um olhar mais sério do pai.

Lucas era o mais tagarela e não deixava os irmãos quietos. Enquanto a mãe arrumava a sala e a pequena Maria, via-o dando beliscões nos irmãos. O menino resmungava e pedia silêncio. O pai saiu do quarto com a Bíblia nas mãos e as crianças faziam cara de anjinhos. Uma espécie de medo misturada a respeito.

Do lado de fora da casa outras pessoas passavam pela calçada que beirava a estrada. Homens e mulheres apressados pela hora ou nervosos pelos problemas que os consumiam. Vidas que eram envolvidas pelas canções que escapavam pela janela aberta. Entre tantos passos apressados, surgem os de Jovelino, um homem forte com uma maleta de documentos nas mãos. O cabelo despenteado pelo vento e o rosto amargurado pelas desilusões, fazia contraste com o belo porte do homem.

Naquela manhã Jovelino sai atrasado de casa e caminha rápido pela rua em direção à rodoviária. Por coincidência ou providência divina, ao passar na frente da casa de seu João, ouve o homem fazendo sua leitura devocional matinal, em voz alta:
- “Vinde a mim todos vós que estais...”

Mas Jovelino não tem tempo de ouvir o restante do versículo bíblico, preocupado com o horário do ônibus que o levaria ao centro da cidade. Mas aquela mensagem o acompanha, ecoando em seu coração cansado e oprimido pelos problemas da vida. Outros dias se passaram e outras mensagens o perseguiram. Mas Jovelino não entendia aquele aperto no coração, aquela vontade de chorar, aquele vazio na alma. Na volta do trabalho descia do ônibus e começava sua trajetória para casa, onde por certo, mais problemas estariam a sua espera. Alguns metros pareciam quilômetros pelo jugo do pecado que carregava.

As casas eram juntas umas das outras separadas apenas por muro. Quando passava em baixo das janelas, mesmo que não quisesse, participava da vida alheia, mesmo que fosse por alguns instantes. Era barulho de rádio, esposas brigando com maridos, crianças chorando. Mas adiante morava uma velha ranzinza, depois seu Teodoro, um alcoólatra que batia na mulher. Depois vinha a casa dos crentes, o único momento de refrigério que experimentava. A musica que vinha de lá de dentro aquietava seu coração. Depois era a vez da casa de dona Zezé, ela fazia bolos. O cheiro era bom. Ele respirou fundo ao ver a casa verde onde morava. Lá estava um dos seus muitos problemas! Não conseguia viver em paz com a esposa.

Ele vinha caminhando devagar, como se quisesse adiar a chegada em casa. Os hinos na casa dos crentes podiam ser ouvidos de longe. Engraçado, ele gostava daquela melodia: “Por que te abates, ó minha alma...” De repente, o cântico parou. Duas crianças começaram a discutir:
- Empresta! Pediu Lucas.
- Não! É minha! Respondeu Marta segurando firme o objeto da discussão.

O menino magricela se aborreceu e arrancou das mãos da irmã o que queria e atirou-o pela janela, no instante que Jovelino passava. O objeto voador caiu em cheio em sua cabeça e depois caiu aberto na calçada. Ainda zonzo pela pancada, ele abaixa e pega o livro de capa preta, lê alguns trechos e chora, ali mesmo, no meio da rua.

O pai da criança abre a porta de casa e vai ao encontro do tal homem, enquanto crianças assustadas expiam pela janela a cena que se seguia: irmão João pede desculpas pelo ocorrido. O homem com lágrimas nos olhos aperta a Bíblia contra o peito. O espírito Santo estava trabalhando. Irmão João entende o agir de Deus e ora pelo pecador arrependido. A cena chama a atenção das pessoas que passam na rua e Jovelino é convidado a entrar na casa dos crentes. Meia hora depois sai dali um homem diferente. A angustia dava lugar a paz. Uma paz que ele nunca tinha experimentado antes.

A Bíblia em cima da mesa da sala, ainda aberta na página lida pelo que antes era pecador, é lida pelo pequeno Lucas que iniciava seu conhecimento bíblico: “Vinde a mim todos vós que estais casados e oprimidos e eu vos aliviarei”.

O menino espera pacientemente a reprimenda dos pais, sem se dar conta que ganhara a primeira alma para Cristo.



Marion Vaz
Enviado por Marion Vaz em 15/11/2010
Reeditado em 13/01/2011
Código do texto: T2617087
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