"O LADRÃO DE GALINHAS" Conto de: Flávio Cavalcante
O LADRÃO DE GALINHAS
Conto de:
Flávio Cavalcante
Morava dentro de uma área de risco literalmente falando. Peu era um tipo de cidadão trabalhador. Desempregado, o homem sentiu na pele o dissabor do peso da idade que já lhe impedia de conseguir alguma vaga no mercado competitivo de trabalho.
Infelizmente é o sistema de nosso país. O cidadão depois de quarenta anos não consegue arrumar vaga em muitas empresas pois, é considerado já velho para o mercado de trabalho. Lamentavelmente com o Peu não foi muito diferente e ele amargurou por este mundo em busca de solução para sustentar a sua família que já o cobrara intensamente por causa da falta de dinheiro.
Só sabe de uma situação difícil, quem passa por ela e Peu sentiu de perto a opressão de faltar dinheiro para compor suas necessidades e de sua família. Chegou um momento que ele saiu em busca de pão pedindo de porta em porta e passando humilhação e sem conseguir êxito na sua busca, começou a enveredar num mar de tormento mental e depressão. Não estava vendo luz alguma no fim do túnel.
A lei praticada pelos homens sem lei do lugar que ele morava era de uma covardia gigantesca, se algum morador praticasse algum mal a sociedade que eles davam ás regras. Muitas vezes este malfeitor pagaria com a própria vida para dar exemplo a outros que ousassem praticar a mal na área.
Peu não estava mais agüentando aquela situação e no desespero esqueceu-se das leis duras, deixou o sol baixar até atingir altas horas da noite. Subiu o morro intensamente. O frio de pé de serra deixara aquele homem combinando com suas roupas pesadas propositadamente na intenção de que algo desse errado pelo menos tinha uma justificativa e não ia dar muito na cara.
E continuou subindo o morro. As ruas eram estreitas e Peu era muito conhecido no lugar, por isso estaria fora de qualquer suspeita. Ele conhecia cada lugarzinho dali. Ele sabia que tinha um cidadão que criava galinhas e a intenção do moço era exatamente o alvo das penosas.
Entrou no quintal á dentro e pegou uma das galinhas que estava recolhida no galinheiro para pôr ovos. Cortou-lhe o pescoço ali mesmo para a dita não fazer barulho. A façanha deu certo e Peu pegou o vício de roubar galinhas. Não queria mais saber de trabalhar e sim fazer pequenos furtos de alimentos para levar para casa.
Alguns dias depois surgiu um bochicho na comunidade que alguma raposa andava comendo as galinhas dos moradores. Fizeram uma reunião na associação e resolveram fazer uma armadilha para pegar o comedor de Galinha. Em vão. Eles nunca conseguiram pegar dessa forma. Mas como toda a verdade um dia aparece, Peu deu uma vacilada assim que entrou no galinheiro. Um grande pastor Alemão o recepcionou e finalmente o Peu foi pego com a mão na botija.
Foi levado ás autoridades do lugar. Sofreu torturas e apanhou muito. Pôr sorte ainda saiu com vida. Mas foi preso pelas autoridades policiais acusado de roubo pelos moradores. Chegando á Delegacia, Peu contou toda a verdade e sem ter pena alguma o delegado o jogou na cadeia, juntamente com outros presos de alta periculosidade. Ali ele viu a realidade da vida de um prisioneiro. Teve até que dar uma de mulherzinha para os presos.
Ficou um bom tempo por trás das grades. A lei realmente funcionou para o Peu. Foi condenado com todas as formalidades. Depois de cinco anos do ocorrido, Peu foi solto da prisão e saiu pelo mundo com a sua família na tentativa de conseguir algo melhor para um conforto mais digno de um cidadão trabalhador.
Essa história é de se refletir na condição de nosso país. O cidadão roubou apensas uma galinha para alimentar sua família que estava passando necessidade e ele não tinha o que fazer para suprir as necessidades momentâneas. Por causa do desespero ele teve que tomar essa atitude indo de encontro aos seus princípios e a lei caiu de pau em cima desse homem.
Vale saber que o Peu era um trabalhador que não tinha onde cair morto. Será que ás autoridades agiriam da mesma forma, se o malfeitor fosse um desses ladrões de cofres públicos, onde a lei fecha os olhos para os marcados com colarinhos brancos?
Quantos ladrões de galinhas não estão apodrecendo dentro do cárcere cumprindo fielmente ás agruras da lei? Quantos ladrões de gravatas estão ás soltas curtindo o dinheiro furtado do bolso de cada cidadão que levanta cedo em busca de um pão para alimentar seus filhos e esposa que o espera todos os dias?
ESSE PAÍS PRECISA TOMAR VERGONHA NA CARA
Flávio Cavalcante