COISAS DO OUTONO

Dos cinco homens que tivera em sua vida, dois haviam sido muito especiais para ela – e quase a tinham levado ao altar:

O primeiro se chamava Fred – e era músico.

O segundo era dono de uma joalheria – e se chamava Roberval.

– Fred, meu amor, faz uma música pra mim!

– Faço!

– Roberval, meu amor...

A mãe execrara o músico:

– Maria Laura, minha filha, você quer morrer de fome, é?

– Mãe, olhe, isso é preconceito!

Um dia a velha atendeu ao telefone e...

– Moço, fique longe da minha menina!

Fred, sempre bem-humorado, respondeu:

– Se fizer isso eu vou morrer, dona Marta!

– Pois morra, está ouvindo? Morra que já vai tarde!

Maria Laura, enfezada, tomou o aparelho:

– Mãe, eu gosto dele e ele gosta de mim, entende?

Logo, logo, no entanto, a própria Maria Laura poria termo ao compromisso. Motivo: a música que Fred, por mais que tentasse, não conseguia compor para ela.

– Acho que ele não me amava o bastante – desabafou com uma amiga.

Um ano e meio depois – era o começo da primavera –, ela apareceu em casa com Roberval, quinze anos mais velho, divorciado e com três filhos.

A mãe o recebeu radiante:

– A casa é pobre, mas é nobre. O senhor fique à vontade, viu?

Tudo ia de bem a melhor quando Roberval, na maior molecagem, decidiu voltar para a ex.

Faltava pouco mais de um mês para o casamento...

Maria Laura, claro, ficou arrasada.

– Os homens não prestam mesmo! – arrematou.

Assim como no final do romance com Fred, também era outono...

Folhas amarelas caíam das árvores, misturadas às lágrimas que Maria Laura – abraçada ao seu ursinho de pelúcia – vertia sem parar...

Hélio Sena
Enviado por Hélio Sena em 14/11/2010
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