Fiz merda!
(Corrigido no dia 18/03/2011 às 17:38)
É, são quase duas da manhã. Essa festa está um saco. Já se formaram os grupinhos. De um lado os bombados que só sabem dançar de um jeito todos os ritmos. O mesmo jeito, com os braços erguidos querendo mostrar os bíceps definidos, segurando uma garrafa de cerveja, e se aproximando das “minas” com aquele jeito prepotente e escroto que só os bombados têm.
Do outro, as garotas que ninguém nunca “pega”. São metidas e gostam de dançar vulgarmente, assim ficamos atraídos e caminhamos sob efeito hipnótico para o “toco” delas. São todas umas minas que se espremerem não dão nem o índice de uma enciclopédia. Tem também o grupo dos feiosos que se acham gatinhos só porque têm franja. Esses me irritam. Não sei do que eles gostam, se do sexo feminino, do masculino ou etc.
Há outros subgrupos como o dos homossexuais; o dos Nerds; o dos sem papo; e o dos Emos, que poderiam ser integrados ao grupo dos feiosos de franja, mas não quero generalizar. Eu?... Bem eu não tenho um grupo. Não tenho muitos amigos que eu possa contar pra sair. Só o jornaleiro, que vive me falando dos seus casamentos e de futebol, e o cara da locadora, que sei lá, me olha estranho quando me abaixo para ver os filmes nas primeiras prateleiras. Se for me colocar em um grupo, seria no grupo dos sem grupos que ficam criando grupos para se sentirem superiores. Pois é, eu sou assim.
Então me perguntem por qual motivo eu vou às baladas. Na verdade para ver pessoas. Não tenho papo; não sei como puxar assuntos. Sou péssimo nisso desde meus quinze anos (aliás, tenho vinte agora) eu tenho fracasso em relação a “chegar” em mulheres. Eu gaguejo e tal, coisas comuns. Mas não sou nerd, nem homossexual e, por Deus, estou longe de ser um Emo.
Mas nas noitadas, fico ali sozinho. Observando os bombados fúteis, as patricinhas inúteis, e as gostosas funkeiras com seus micro vestidos. Mas teve um dia, que eu saí de casa querendo beber. Sei lá! De repente eu estava na frente do barman pedindo uma caipirinha; Ele me serviu com um sorriso de quem sabia que eu não sabia o que eu estava fazendo. Bebi tudo de uma vez. Pedi mais uma, e mais uma, e mais uma. Foi então que, como num filme de amor, entraram pela porta um grupo de minas indescritíveis. Eram lindas, loiras e negras. E, entre elas todas, havia uma ruiva. Quem não gosta de ruivas? Quem não admira uma menina de cabelos vermelhos e pele alvíssima? Han? Pois eu admiro, e a ruiva de repente se transformou na única menina da festa. Só ela, somente ela dançava na pista de dança. Eu só conseguia vê-la. E ela dançava maravilhosamente bem. Sem ser vulgar, sem ser ridícula... Ela sabia dançar. E o mais estranho era que ela era muito familiar.
Às três da manhã, e não sei quantas caipirinha depois, ela ainda dançava e eu bebia para tomar coragem. Me levantava, mas voltava no meio do caminho. Ensaiava o que falar, mas cadê que as palavras se encaixavam? Han? Cadê? Foi então que os olhos dela caíram sobre o meu. Parecia embriagada também. Seus olhos brilhavam. E por incrível que pareça, a ruiva parecia muito feliz em me ver. Me aproximei e ela sorriu. É ela sorriu de novo, e que sorriso lindo, meu irmããão!!
Dançamos juntos e pertinhos um do outro. De repente seus lábios se moveram e de dentro deles saiu a palavra que me fez ficar ainda mais apaixonado: “Fábio!”
Não, não sou gay, já disse. Mas ela sabia meu nome! Se destino existisse, aquela seria a prova. Ela sabia meu nome. Continuamos dançando e bebendo a noite inteira. E que eu me lembre, ninguém nos perturbou. Ao final do dia, a chamei para ir para casa. Ela topou. Eu não estava acreditando. E olha que nem usei muito assunto com ela. Falamos dos nossos bairro (sim, morávamos no mesmo bairro), falamos de filmes, de bombados escrotos, de idosos que brigam por causa de bancos no ônibus, enfim, sobre tudo. E ela incrivelmente parecia saber tudo sobre o tudo. Sempre tinha uma opinião.
Chegamos ao meu prédio. Resolvi subir pela garagem para que o porteiro não nos visse. Ali, entre os carros, tentei beijá-la. Ela esquivou e sorriu. Estava muito bêbada. Pensei em deixar pra lá.não seria legal me aproveitar de uma ruiva embriagada. Mas sabem como é. Tesão quando vem, é difícil de conter. Foi aí que tentei beijá-la de novo. E desta vez ela cedeu.
Não me lembro de muita coisa, mas acho que transamos próximo à lixeira do prédio. Foi sujo, mas com uma coisa sexual magnífica. Fomos para minha casa e ela pediu para ir ao banheiro. Fui para meu quarto, tirei toda minha roupa... dormi.
Ao acordar, minha mãe me chamou na cozinha.
-Chegou que horas, Fábio?
-Não sei, mãe. Não faço idéia!
-Olha seu estado, garoto!
-Rio de Janeiro.
-O que tem Rio de Janeiro?
-Meu estado né, mãe!
-Vai na sala pegar as compras. Coloque-as aqui no armário da cozinha. E pare com essas de piadas idiotas!
Minha mãe vivia dando ordens e me chamando de idiota. Se eu fosse um camarada sensível eu já tinha me suicidado há anos. Às vezes me chamava apenas para desligar uma luz, acender um ventilador... Isso me irritava profundamente. Mas nada estragaria meu dia seguinte ao meu melhor encontro. E pelo visto, mamãe nem se deu conta da presença da menina aqui em casa. Nem comentou. Vai ver a ruiva saiu de manhã, nem me deu tchau e não deixou seu telefone. Mas foi na sala que recebi outra surpresa. Enquanto me abaixava para pegar as sacolas, observei os portas-retratos sobre a cômoda escrota que minha mãe mantinha na sala. Fotos minhas quando bebê. Fotos de meu pai antes dele falecer em um campeonato de motos. E então meus olhos pararam sobre uma foto. Numa dela, havia uma pessoa que eu conhecia. E que não associei quando devia.
Ao voltar para a cozinha, ouvi minha irmã conversando com minha mãe.
-Mãe, peguei um cara tão idiota ontem! Mas como beijava mal!
Engoli a seco.
-Ele morava aqui no prédio. Parecia o Fábio! Deus me livre! Só de pensar em ficar com o Fábio eu já enjôo!
Corri para o quarto e comecei a ter ânsia de vômito. Pensando na merda que havia feito. Vocês não estão entendendo! Eu peguei a minha irmã na balada! E tudo por culpa da maldita caipirinha!
Eu não saio mais, não bebo mais... Preciso arrumar outros hobbies. Na verdade, sinceramente? Preciso é arrumar alguns amigos!
Fim