Dieta Forçada
Aquela foi mais uma noite em que Isabela foi para a cama com a consciência pesada. Aliás, não só a consciência. A camisola não lhe serviu mais e assim teve que dormir só de calcinha, apesar do frio. E olha que precisava de peças novas e maiores...
Bem que ela queria emagrecer, mas como podia? Novamente havia exagerado no jantar e não desperdiçou o pudim de leite com requeijão como sobremesa. Depois de dois meses comendo sem parar, ela já não mais lembrava a mulher que era. Tudo por que seu marido, aliás, ex-marido, a trocou por uma morena doze anos mais jovem e quatro números menores no manequim. Desiludida e deprimida por causa do desastre matrimonial, abandonou o emprego e só o que fazia era comer. Recusava-se até a sair de casa.
Contudo, a vida deve seguir. Retomar a vida lhe era uma necessidade indispensável. Ela precisava ser forte – não apenas fisicamente. Precisava vencer todo esse sofrimento. Precisava, enfim, perder aqueles quilos a mais que ganhou – desses, dez apenas naquela semana... Começaria um regime amanhã, decidiu.
Adormeceu e sonhou com um novo amor. Estavam alegres, altivos, corriam pela beira do mar no Havaí. Ela corria na frente, com um aro de flores na cabeça; ele a perseguia, usando branco. Mas de repente ela olhou para trás, ainda sorridente, esperando encontrar seu príncipe já perto para enfim se entregar a ele e ambos caírem sobre as ondas que quebravam num rolar manso e dormente sobre a areia da praia, em tão esplêndido cenário, quando mais uma vez seu coração despedaçava. Ele havia ficado longe, com uma loira de corpo monumental e treze anos mais jovem que ela. Naquele momento de decepção e angústia, virou-se, e se deparou com um leitão assado e recheado dançando Hula e comendo fruta-pão. Acordou no meio da noite mordendo o travesseiro, desesperada. Seu coração estava disparado. Realmente não teve um bom sonho. Aliás, sonho que nada! Aquilo foi um terrível pesadelo. Soluçando, ainda chorando, tentou expirar e inspirar pacientemente. Desceu as escadas e tomou um copo de água fresquinha na cozinha. Voltou para seu quarto e evitou dormir. Outro pesadelo daquele seria um decreto de morte: seu coração também já não era o mesmo.
Horas depois o sol despontava no horizonte, dispersando a neblina com seus raios dourados, entrando sereno pela janela daquele quarto escuro. Isabela levantou-se da cama e foi ao banheiro. Dentes escovados, água no rosto, cabelos desgrenhados e um “camisetão” sobre o corpo: assim ela desceu lentamente pelas escadas.
Preparou seu café, serviu a mesa, sentou-se. Pôs-se a observar os pães, o leite, o café, as torradas, a manteiga, a geleia de jabuticaba e as fatias de queijo ricota. Resignada, ela não havia tocado na comida. Não bebeu nada, não disse uma palavra sequer. Não se levantou. Dias depois a encontraram no mesmo lugar, do mesmo jeito. Conseguiu, enfim, emagrecer. Estava morta, provavelmente vítima de um infarto fulminante.