Pecado Entre Garotos

Fernando era um rapaz tranqüilo. Tranqüilo como qualquer sogra, qualquer pai, qualquer professora desejaria no mesmo ambiente. Nascido em uma família católica praticante, mas não fervorosa, sempre tivera contato com o lado bom da vida, e acreditava em Deus acima de todas as coisas. Era o tipo de rapaz que não matava uma barata, pois acreditava que elas serviriam de alimento para outros insetos, assim mantendo a ordem natural das coisas equilibradas.

Resumindo, Fernando era um cara chato pra caralho!

E não sou eu quem estou dizendo isso. Os próprios amigos do cara falavam isso. Adorava estar certo, adorava contar vantagens por ser um rapaz bom, e por isso acreditar que já tinha sua vaga no céu. Mas o que para os familiares era um sinal de bondade, para os garotos da idade dele, dezesseis nessa época, Fernando não passava de um boiolão. Sim, com essas palavras mesmo, um B-o-i-o-l-ã-o.

Na escola, ele entregava os amigos que quebravam as vidraças ou que colocavam tachinhas nas cadeiras das meninas. Na igreja, mostrava ao padre, chegando a levá-lo até o local, aonde alguns jovens davam amassos atrás da igreja. E isso tudo ia despertando a raiva mais feia e vermelha nas pessoas que eram prejudicadas.

O mais prejudicado era Salvador. Além de odiar seu nome, pois o achava nome de velho, e baiano demais, ele parecia ter sido o escolhido por Fernando para ser seu amigo. Muitos achavam que Fernando na verdade, nutria algum tipo de paixão por Salvador, porém os mais próximos, diziam que ele só queria alguém que não o odiasse. Mas Salvador o odiava. Por causa dessa aproximação do fofoqueiro, Salvador foi perdendo todos os amigos, e todas as meninas que ele pretendia dar uns amassos, também foram se afastando. Era como se ele estivesse contaminado pelo vírus Fernandis Chatopuls . Um vírus que atacava o sistema nervoso e o senso de ridículo e transformava o contaminado num virgem meio retardado. Não sabia o que fizera para merecer aquela aproximação.

Cansado de ter perdido as oportunidades de sexo fácil e sem compromisso, Salvador resolveu tomar suas providências. Primeiro aceitou o convite de seu amigo para estudarem juntos. Foi até a casa de Fernando e pode perceber que seus pais eram exatamente do mesmo jeito, ou seja, chatos pra caralho. O quarto do rapaz era repleto de cartazes com imagens de Jesus Cristo, e entre elas, havia um pôster de Priscilla, A Rainha do Deserto. Isso realmente chamou a atenção de Salvador.

Feito isso, ao final da sessão de estudos sobre aparelhos reprodutores dos mamíferos, Salvador resolveu abrir o verbo. Pretendia pedir para que os dois se afastassem, e sabia o quanto gay iria se sentir terminando um relacionamento ( que não existia) com um cara! Aproximou-se de Fernando para falar, e sentiu que o rapaz iria beijá-lo. Foi então que tirou a conclusão de que o jovem realmente tinha segundas intenções com ele. E seria o gancho perfeito para fazer algo em relação à perseguição que sofria na escola. Pegou suas coisas e saiu correndo.

Salvador foi até Gutemberg, chefe do Grêmio estudantil da escola e lhe propôs cem Reais, caso ele o ajudasse. Os dois então foram até a casa de Victor, que possuía uma câmera de definição em HD. Os três tiveram uma reunião que resultaria em uma ligação às onze da noite para a casa de Fernando.

Ele atendeu curioso, afinal ninguém o ligava uma hora daquelas. Era Salvador. Queria se desculpar e aceitar que os dois eram muito ligados. Que poderiam tentar ser amigos ou o que ele quisesse. Aquela conversa deixou Fernando alegre. Ajoelhou-se ainda com o telefone no ouvido e se benzeu por três vezes. Aceitou de imediato o pedido de seu amigo-querido para que fosse até sua casa. E vinte minutos após desligar o telefone, lá estava Fernando chegando vagarosamente na portaria do prédio de Salvador. O porteiro se aproximou e abriu a porta. Ele entrou e pegou o elevador até o sétimo andar. Ao sair do elevador, Salvador o esperava na porta de seu apartamento. Pediu que entrasse direto sem que ele fizesse barulho. Explicou que seus pais haviam viajado, e que os vizinhos poderiam achar que eles estariam se drogando sozinhos. Fernando parecia com medo.

Ao entrar, a televisão estava ligada em um canal erótico. O rapaz tentou disfarçar as cenas, mas viu que não teria como. Sentou-se no sofá e Salvador sentou ao seu lado, pedindo para que ele explicasse o que teria acontecido caso ele se aproximasse mais. Foi então que o menino educadamente disse que admirava-o por ser diferente dos outros garotos, e que sentia amor por ele. Fernando se aproximou de Salvador e enfiou as mãos por dentro de sua calça. Aproximou sua boca do pescoço do rapaz que parecia se segurar para não correr. Sua expressão era de asco. Mas continuou ali. A cabeça do rapaz foi descendo pro seu peito... Salvador então sorriu e piscou para uma pequena luzinha que saía de trás de um pano.

No dia seguinte Fernando não entendeu porque as pessoas o olhavam com um sorriso debochado. Alguns rapazes jogavam flores para ele, e foi então que a diretora do colégio o chamou até seu gabinete. Lá ela explicou que um vídeo havia vazado pela internet, aonde ele se relacionava com um rapaz do colégio. Nesse instante, o sangue de Fernando ferveu. Perdiu mil perdões a Deus e à diretora. Foi correndo para casa, e desviando dos ovos que os alunos jogavam contra ele. Ao chegar em casa, viu-se só. Parou para pensar na reação de seus pais, em como poderia viver na cidade pós todos terem visto ele se rendendo ao pecado da carne com um homem. Pegou um pequeno frasco no banheiro e ingeriu todos os comprimidos que ali havia.

No dia seguinte, os alunos estavam mais calmos. Não se sentiam observados. Mas Salvador parecia sentir algo. Talvez fosse saudade do amigo que ele não pode ter, e que, por causa dele, era visto agora como a nova bicha do colégio.

Fael Velloso
Enviado por Fael Velloso em 02/11/2010
Reeditado em 08/12/2010
Código do texto: T2593344
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