Garotas I
Ela sentou-se na cama; em seguida, caiu de costas nela. Por um momento ficou sem pensar em coisa alguma; nada passava pela sua cabeça, literalmente. Parecia que estava numa espécie de transe: olhava para o teto amarelado mas não o enxergava. Virou-se de lado. Analisou o perfume dos lençóis, do travesseiro. Ele esteve ali. Ele fora visitá-la por alguns poucos minutos. Naquele momento, já havia partido.
Deve ter ficado uns quinze minutos desse modo. Quando voltou para si, sentiu-se envergonhada por recebê-lo naquela bagunça que era seu quarto; mas não se arrependeu. De forma nenhuma.
Ela havia esperado tanto por aquela oportunidade, e passou tão rápido; nem notou os ponteiros do relógio anunciando a despedida. Foi tudo mais efêmero e lacônico do que havia imaginado, mas foi melhor ainda.
Ela queria ter sentido o seu gosto, mas não pôde. O momento era tenso demais para esse tipo de coisa. Na falta da capacidade, ficou a imaginar que sabor ele teria: morango. O que mais poderia ser? Sua pele branca como neve e rosada, seus cabelos intensamente pretos, como os olhos. Os lábios carnudos – e indiscutivelmente macios, era o que se podia dizer mesmo sem tocá-los – e vermelhos...
Imaginou o que teria acontecido se tivessem se beijado. Aquelas lábios voluptuosos pulsariam sobre os seus, o que os tornaria muito mais vermelhos e quentes. Sua saliva entraria em contato com a dela e se transformaria em um vício, um torpor indescritível. Sua língua acariciaria cada milímetro da misteriosa boca da garota e arderia numa volúpia insuportável. Suas mãos calorosas passeariam pelo seu corpo. Sua boca desceria pelo seu pescoço. Seu perfume ficaria impregnado na pele dela.
Sim, o seu perfume. Lembrou-se dele e quase desmaiou. Era a fragrância de alguma coisa doce misturada ao inconfundível cheiro do sexo masculino...
Mas essas eram só lembranças de um sonho insuportavelmente feliz.