Luisa

Luisa queria falar. Mas parecia que as palavras faltavam à sua boca, desapareciam, caíam para dentro, deslizavam pela sua língua até chegar ao estômago, embora nunca fossem digeridas. Cada sílaba não pronunciada era como um vômito ao contrário e deixava cicatrizes.

Luisa permanecia inerte, parada, paralisada. O mundo que girava ao seu redor não mais importava. Os olhos tentavam se esconder, embora a cada vez que eram vislumbrados refletiam a idéia de que o procurado fora achado.

Luisa pairava no ar, flutuava. Sentia as nuvens sob os seus pés e a lua embalar a noite sobre sua cabeça.

Luisa gostava da noite assim, fria, para que pudesse se aconchegar nos próprios braços ao som de outros passos; para se enlaçar em seu corpo ao admirar outro porto.

Luisa negava, embora sorrisse e, assim, consentisse.

Luisa queria tanto, mas tanto, que não conseguia. Quando olhava para ele toda a sensação da noite anterior renascia. Não encontrava maneiras de se aproximar, nem mesmo de se desapaixonar.

Um dia, Luisa ao invés de engolir as palavras, engoliu a euforia e toda aquela chama, que decidiu: não mais transpareceria. Disse algumas palavras, percebendo que por dentro morria. Ele fora muito gentil, e ela notara que desnecessária ansiosidade sua mente fortalecia.

M Whatsername
Enviado por M Whatsername em 30/10/2010
Código do texto: T2587258
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