Luisa
Luisa queria falar. Mas parecia que as palavras faltavam à sua boca, desapareciam, caíam para dentro, deslizavam pela sua língua até chegar ao estômago, embora nunca fossem digeridas. Cada sílaba não pronunciada era como um vômito ao contrário e deixava cicatrizes.
Luisa permanecia inerte, parada, paralisada. O mundo que girava ao seu redor não mais importava. Os olhos tentavam se esconder, embora a cada vez que eram vislumbrados refletiam a idéia de que o procurado fora achado.
Luisa pairava no ar, flutuava. Sentia as nuvens sob os seus pés e a lua embalar a noite sobre sua cabeça.
Luisa gostava da noite assim, fria, para que pudesse se aconchegar nos próprios braços ao som de outros passos; para se enlaçar em seu corpo ao admirar outro porto.
Luisa negava, embora sorrisse e, assim, consentisse.
Luisa queria tanto, mas tanto, que não conseguia. Quando olhava para ele toda a sensação da noite anterior renascia. Não encontrava maneiras de se aproximar, nem mesmo de se desapaixonar.
Um dia, Luisa ao invés de engolir as palavras, engoliu a euforia e toda aquela chama, que decidiu: não mais transpareceria. Disse algumas palavras, percebendo que por dentro morria. Ele fora muito gentil, e ela notara que desnecessária ansiosidade sua mente fortalecia.