NO MEIO DO NADA
Aquele era um dia comum, em lugar nenhum, no meio de uma multidão de ninguém. Olho as pessoas e não as reconheço; busco reconhecer o lugar, os relevos, as árvores, o ar... tudo é familiar mas ao mesmo tempo me é indiferente.
Deus! é isso! vou rezar pedir algum esclarecimento, mas que diabo era Deus afinal? Jesus, todos falam Nele, é certo que me ajudaria...Piorou como posso crer em alguém que a história fabricou trezentos anos após sua existência, como alguém pode ser tão levado a sério, tendo pregado o desapego, o amor, o perdão, e a igreja que se auto intitula sua, usa-o como garoto propaganda, fazendo justamente o contrário de tudo que Ele exemplificou.
A voz do povo é a voz de Deus... Me votam em senador e suplente ficha suja que não poderão assumir o mandato, isso por aqui já é um pequeno progresso. Estou com nojo da política, muito nojo.
Tem o carnaval, um desfile onde a maioria miserável, se permitem vestir de dourado,forçam um sorriso, e vai divertir os homens brancos, que antes estavam nas suas fazendas e permitiam que seus escravos se divertissem nas rodas de capoeira...Mas em seguida os sugavam até a morte. Nada mudou.
Me olho bem no fundo e vejo tudo isso dentro do meu DNA, sou branco tirano que escraviza e abusa com o aval de Deus. Ao mesmo tempo sinto a dor infinita do negro, que escravizado, aprendeu a sorrir mesmo amarrado, em sua maioria se alienou e acabou achando que era menor e mais feio, em um mundo onde todos seus valores foram, cruelmente extirpado, restando somente o conformismo e o carnaval, porque nesse dia pode ser rei, ser livre... afinal o carnaval é ruim ou bom? É um mau necessário, além de render muito dinheiro aos cofres públicos.
Acabo de me achar. Estava dormindo na história da vida, agora acordei para o nada dessa realidade, que é exatamente igual ao meu sonho, acho que estou tomando consciência do infinito que nos envolve, nesse eterno vai e vem de mentiras, omissões, falsos fatos manipulados para melhor render. Que faço? Nada. Apenas sigo tentando entende, achar o fio da meada, mas com a plena certeza que ainda não tenho potencial para realmente me auto esclarecer.