MADRUGADA TRISTE

Madrugada triste

Helena estava dormindo. Foi acordada de madrugada por sua irmã: “Reze por mamãe, ela está muito mal”. Ela não chegou a rezar, correu ao quarto de sua mãe. Ela já tinha falecido. Estava deitada ainda na cama. As irmãs dela foram chamar uma vizinha. A vizinha veio, ajudou vestir sua mãe e colocou-a na sala, como era o costume da cidade. Todos os velórios eram feitos em casa. Não chamaram um médico para constatar a morte. Também não era costume da cidade, não havia médicos. Após isso, Helena com apenas onze anos, foi com sua irmã, Bernadete, à casa das tias que moravam na cidade para avisá-las. Não havia telefone na cidade e toda a comunicação era feita boca aboca. No caminho a sua irmã lhe falou:” acabamos de perder o grande tesouro de nossa vida”

De manhã, Helena saiu com suas primas para pedir flores para sua mãe. Não era costume comprar flores. Não havia floricultura na cidade. No caminho, uma de suas primas falou: “uma mãe faz muita falta”Ao ouvir esta frase, Helena a pensou: “tudo que ela faz outras pessoas vão fazer:lavar a roupa, cozinhar, passar roupa”. Após ganhar flores para levar ao cemitério, ela voltou para casa e ficou olhando sua mãe na esperança que algum milagre acontecesse e sua mãe não fosse enterrada. Chegou na hora de fechar o caixão. Ela deu seu beijo de despedida. Não foi ao enterro.

Passaram alguns dias, e ela foi sentindo falta de sua mãe. Outras fizeram o que sua mãe fazia, como ela havia pensado. Mas ninguém era sua confidente como sua mãe que não estava mais ali para ouvir suas queixas,

escutar as novidades, contar histórias. Dar a bênção quando ela saía de casa. Hoje, após tantos anos, ao me relatar essa triste madrugada, ela chorou.