Josué e os dez cruzeiros ($)

Eu conheci o Josué. E ele mesmo me contou o que aconteceu. Num dia cedinho da manhã. Ele foi pedir a sua mãe um lápis. A coitada com muito sono, pois havia trabalhado durante quase a noite toda, porque era enfermeira num hospital, disse pra o Jô, como ela o chamava carinhosamente, meu filho você pode pegar o lápis dentro dessa bolsinha que a mamãe tem e que está aí em cima do criado mudo. O Josué foi até o criado mudo e lá estava mesmo a bolsinha de sua mãe. Quando ele a pegou ficou surpreso pois dentro da bolsinha estava não só lápis que ele precisava mas muitas notas, dinheiro vivo, tutu, grana. Josué logo cresceu os olhos numa linda nota de dez cruzeiros, sem titubear, pegou o lápis, mas, também, a nota de dez cruzeiros. Agradeceu a mãe e foi para a escola. Sem perceber havia surrupiado de sua mãe quase a metade do salário que ela havia recebido do seu plantão no hospital.

Enquanto se encaminhava para a escola Josué pensava no que havia feito. Era um bom menino e não havia recebido aquele tipo de educação. Sabia que tanto a mãe quanto o pai trabalhavam duro para manter ele e mais cinco irmãos.

A escola não era tão longe! Ficava apenas à umas quatro quadras de sua casa. Não demorou muito e bateu o arrependimento. E o sentimento de culpa, e tantas perguntas vieram à sua mente. Pensou então em devolver. Mas, e agora, como faria isso? Faltavam apenas duas quadras para chegar à escola. Ingenuamente percebeu uma pilha de tijolos em frente a uma residência. Não teve dúvida, olhou para um lado e para o outro e não vendo ninguém levantou um dos tijolos e colocou ali embaixo a nota de dez cruzeiros.

Josué fez isso para não perder ou até mesmo correr o risco de gastar os dez cruzeiros. Mas com certeza correra outro risco, ainda maior, claro, alguém pegar o dinheiro.

Ficou “tranqüilo”e foi para a escola, cantarolando e com a consciência em paz, ou quase.

Não demorou muito e alguém bateu na porta da sala de aula da escola do Josué, era seu irmão mais velho que pedindo licença à professora solicitou a saída do Josué. Quando Josué saiu seu irmão foi direto ao assunto e perguntou: onde estão os dez cruzeiros que você pegou da bolsa de mamãe? O Josué, ingênuo, ainda pensou, como é que ela sabe que fui eu quem pegou os dez cruzeiros? Mas, mais do depressa tratou de dizer ao irmão o que havia feito com o dinheiro. O irmão de Josué ficou impressionado com o que ele havia feito. E se alguém tivesse visto ele colocando a nota ali, sem que Josué tivesse percebido que a pessoa estava observando e fosse lá e pegasse o dinheiro? Assim foram imediatamente até o local e quando chegaram lá para surpresa dos dois... O dinheiro ainda estava lá. Lá estava a nota de dez cruzeiros! Josué pegou e a entregou ao irmão e este o levou até sua mãe.

Josué achou que estava tudo bem agora, afinal de contas havia terminado tudo bem! Engano seu. Quando Josué chegou em casa sua mãe já o esperava para uma conversinha... e foi logo perguntando: Josué, você quer apanhar de palmatória, de cinta ou de cipó de goiabeira? Sem muita opção, pois de qualquer forma iria levar um corretivo merecido, Josué ainda escolheu apanhar de palmatória, mas levou ainda umas boas cintadas e de sobremesa, goiabeira. Desse dia em diante Josué aprendeu que mesmo sendo da mãe, quando a gente quer tem que pedir e não pegar sem dizer nada, pois isto é roubo, e já se sabe, como diz o ditado popular “costume de casa vai à praça”.