A Vida na Cidade Grande.

“Tá comendo o que? Sopa de pedras com suco de petróleo?

“Não esqueça de me dar um pouquinho de seu monóxido de carbono!”

“Comi muita fumaça ontem sim...”

“Então. E ainda acha que vive com liberdade e dignidade.”

“Cê que pensa, rapá! Há duas semanas tirei uns dias de lazer e fui para um SPA dentro de um ônibus na Av. Brigadeiro Luis Antonio. Foram três dias parados ali, com café da manhã, almoço e jantar all incluso.

“Um amigo meu decidiu mudar a rota para chegar ao trabalho, agora vai pelos telhados. Descobriu uma brecha entre os vãos do ‘all mort’ e das empresas ‘fort fort’ e ‘compre pão com manteiga’. Agora faz o percurso em duas horas e doze minutos. Ganhou até promoção da chefia!”

“No meu caso não dá, estou cercado de edifícios! Ontem tive que dormir no carro, depois de dezessete horas preso no trânsito, sem sequer poder abrir os vidros, tendo em vista que a bandidagem tava alvoroçada, pior que tubarão faminto diante de presa sangrando! Fiquei até verde, de tanto ar condicionado! Por sorte inventaram esses carros blindados. Você precisava ter visto a cara dos caras querendo uma presa descuidada com seus sistemas de segurança! O menor deslize o cidadão é roubado!”.

“É assim mesmo, isso virou uma selva. Quando eu estava no meu SPA no ônibus eles ficavam sobre o veículo, esperando a vez. Coitados, aquela fumaça e aquele sol deve ter-lhes brotado algum tipo de câncer!”.

“Ah, não tenho pena desses sujeitos, não! Só querem roubar e além do mais vivem abertamente ao ar livre, com suas químicas ou não, estão mais livres do que nós!”.

“É, mas sua expectativa de vida é curta!”.

“Não importa, e nós que vivemos presos dentro de coisas, latas, grades, concretos, sem respirar direito, passando grande parte do tempo sentados, abafados, recostados, espremidos feito enlatados!?”. Antes morrer livre do que viver preso!

Savok Onaitsirk, 11.03.10.

Cristiano Covas
Enviado por Cristiano Covas em 19/10/2010
Reeditado em 13/04/2011
Código do texto: T2565519
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