Janta na Taverna
A noite do século.
Era terça-feira à noite. Chovia muito. E após um dia exaustivo de trabalho fácil e agradável não havia nada melhor que beber um pouco em uma taverna (Pub para os contemporâneos). Sim, meu amigo, o dia havia sido difícil, pois o tempo data e hora são os potencializadores do cansaço, o trabalho é apenas, no pior dos casos, demasiado simples e primitivo, daí a confusão. Pois então, deixei meu casaco na chapelaria do recinto e sentei-me na mesa mais próxima do balcão. Logo, pedi uma bebida e coloquei um Malboro de cabeça pra baixo. Na vitrola, tocava I want you de Peter Framptom agradável demais para uma terça diga-se por sinal.
Pensando bem, conhecia pouco o Peter, mas a única coisa que sabia ao certo é que o achava tímido como uma ostra.
Era isso. Pediria um petisco! Será que eles teriam ostra?!
– Amigo, traz um petisco no capricho, por favor! – disse, impondo minha voz de macho alfa. Ele fez um “OK!” com o polegar, era a minha deixa. Fui ao banheiro lavar as mãos.
Quando voltei, o petisco já estava na mesa. Acomodei-me, e comecei a comer os bolinhos maravilhosos do fundo do mar. Ademais, notei um rapaz sentado na cadeira a minha frente, cadeira oposta a minha. Como era possível?!, pensei. Ele poderia ter se confundido já que deixei a mesa vazia por alguns instantes. Ou talvez quisesse confusão mesmo. O que um homem como eu faria para defender seus interesses? Educado como sou resolvi não falar nada. Criar caso pra quê? Mandar o cara pro hospital, ter de pagar advogado, essas coisas...
Vou ignorá-lo, havia decidido. Peguei o jornal e comecei a folhear, enquanto isso, comia meus bolinhos. Todavia, ele me encarava, eu fingia não notar. Porém, algo inacreditável aconteceu: ele pegou um dos petiscos. Sim, isso mesmo, um dos meus bolinhos. Não deixei barato! Fixei o olhar nele (no estilo brucutu dos filmes do Stallone) e peguei um também, como quem mostra e tem convicção do que lhe pertence. Ele me encarou e pegou outro petisco. Como ousa, pensei. Outrora o mataria ali mesmo. Encaramo-nos por algum tempo... Ele pegou outro e fez uma cara muito feia, mas feia mesmo, parecia doer pra caramba. Tentei fazer o mesmo, infelizmente tive câimbra na gengiva. Estávamos num impasse e meus petiscos estavam acabando. Continuamos a pegar os bolinhos um de cada vez, sem piscar, sem olhar para a bandeja, movendo somente antebraço e pulso. A coisa havia ficado feia. A paciência havia acabado. Estava me levantando para agredir o homem quando o garçom do local se intrometeu.
- Senhor, disse ele.
- Pois, não?, respondi, sem nem olhar para o lado.
- O seu pedido está pronto. Devo trazê-lo a esta mesa ou a que o senhor estava antes?
Versão Inglesa:
Dinner on the Tavern
It was Tuesday evening. It rained a lot. And after an exhausting day of easy and pleasant work there was nothing better than drinking a little bit of alcohol on a tavern. Yes, my friend, I mean days have been exhausted cause the time, dates and hours, these are boosters of fatigue, the work is, in the worst case, too simple and primitive, hence the confusion. Well then, I left my coat in the cloakroom and sat at the table nearest the counter. So, I ordered a drink and put a Marlboro upside down. On the jukebox was playing Peter Framptom, too pleasant to Tuesday days to tell you the truth. Thinking better, I knew little about Peter, but the only thing that I knew for sure was that he was timid like an oyster. That’s it. Snack! Do they have oyster cookies?!
- Buddy, bring a snack at whim, please! – I said, imposing my alpha male voice. He made an "OK!" with the thumb, it was my cue. So I went to the bathroom to wash my hands.
When I returned, the snack was already on the table. I settled down and started eating the cookies wonderful seabed. Also, I noticed a guy sitting on the chair opposite to me, the exactly chair opposite to mine. How was this possible?! - I thought. He could have been confused since I left the table empty for a while. Or perhaps he is gay, who knows. What would a man like me do to defend his interests? Educated as I am, decided to say nothing. Arrange trouble for what? To send the guy to hospital, having to pay a lawyer and all these things, after kicking his ass. No, not me, not now. I'll ignore it, had decided. I picked up a newspaper and started flipping through, meanwhile, eating my cookies. However, he stared at me, I pretended not to notice, but something incredible happened: he took my snack. Yes, indeed, one of my cookies. I did not let it for free! I fixed my gaze on him (in the Stallone’s films style) and got one too as a person that is convinced of their belongs. He stared at me and grabbed another. How dare you, I thought. If I was in a bad mood I could kill him right there. We stared at each other for some time ... He got another one and made a very ugly, but a really ugly face, seemed to hurt like hell. I tried to make the same; unfortunately I had cramp in the gum. We were in a duel and the oyster cookies were running away. We continued getting the cookies one at a time without blinking, without looking at the tray, moving only the forearm and wrist.
The thing had become very ugly. My patience was gone. I couldn’t put up with that no more. I was lifting to beat him when the waiter got in the table.
- Sir, he said.
- Yes, what? I replied, without looking sideways.
- Your order is ready. Should I bring it to this table or that one you were before?