A volta à Pátria

Era 1967, céus sinistros ameaçavam a paz, a tranqüilidade dos brasileiros estava sendo ameaçada por confusões, a insatisfações de ponta a ponta, operários em greves incessantes, estudantes em passeatas imensas, requerendo justiça, direitos, muitas coisas que as autoridades deturpavam de todas as espécies em que se poderia imaginar, e o país ia de mal a pior, o poder estava nas mãos dos militares, que nas truculências de seus atos, tentavam sufocar os ideais mais ensandecidos.

Dr. Pedro um jovem de 24 anos, formado em Direito, por causa de seus artigos que mantinha em sua coluna num jornal, e seus artigos incomodavam as autoridades mãos de ferro, não deu outra, o revolucionário teve de deixar sua pátria, o seu Brasil querido, mais um ato entre tantos do poder militar.

Pedro estava em sua escrivaninha escrevendo, em sua mente passava tudo o que fosse possível para o papel, teus dedos frenéticos e rápidos pareciam que rasgaria o papel em sua máquina de escrever, o barulho incomodaria a quem por ventura fosse companheiro de quarto deste destemido exilado político, agora ele estava longe de seu país, ainda lembrava dos poetas, frases que mexiam até o fundo de seu íntimo:

“--- Crianças, amem com fé e orgulho a terra em que nascestes...”

“--- Olha que céu, que mar, que rio, que florestas...”

Mas logo se refez a emoção não poderia prosseguir, pois só lhe prejudicaria mais na sua solidão, precisava terminar um artigo para o jornal daquele país que ele estava hospedado, quer dizer: exilado. Seus trabalhos literários eram bem aceitos alí, um ganho a mais para mantê-lo no período de exilado, -- ou será para até os fins de seus dias? Esta dúvida surge em seus pensamentos.

Pronto, tarefa terminada no embalo de escrever, Pedro aproveita para escrever uma carta a seus pais no Brasil. Sr. Joaquim e D.ª Cândida, não poderiam deixar de receber notícias suas, as duas pessoas mais caras, mais amadas por ele, então:

---Querido Pai, querida Mãezinha, não precisava nem dizer que amo muito vocês, porque tenho a certeza que já sabem sempre souberam, não tenham preocupações comigo, estou bem,(lógico que não estava, ele sentia como um peixe fora da água,

aquele ar, aquele clima o abafava, as pessoas até que não o maltratavam, mas queria viver conviver no Brasil!...) Pai, me perdoe se o decepcionei, sei que apostastes tudo em mim, me permitistes dando condições nos estudos, nossas discussões sei que o sr. queria tudo de bom para mim, sei também que me compreendia, as minhas lutas, esses ideais que de uma maneira ou de outra podem deixar marcas profundas!... Cuide-se bem meu Pai, cuide também de nossa fazenda, estas nossas belas terras, elas não me saem dos sonhos mesmo estando acordado, já não tenho vontade que o sr. venda esta nossa linda propriedade, assuntos que eu tentava te convencer para que pudéssemos viver nas grandes cidades.

Mãe, agora é com você, mãezinha, me perdoe também, se não posso te dar o aconchego agora, e que me destes em todos os momentos que estive ao teu lado, me perdoe pelos sofrimentos em que a fiz passar por causa desta minha luta, tenho saudade de sua presença, de tuas histórias, teus conselhos, dos alimentos em que suas mãos de fada tanto sabe preparar, entre elas, o arroz e feijão, iguarias que os brasileiros possuem o privilégio de possuir, ah, que saudades!... Mãe, muitos brasileiros não ignoram o que é viver neste imenso paraíso Brasil, minha luta e os meus demais companheiros se resume nisto!

Mas logo estaremos juntos novamente, meus queridos, adorados pais!

(em seus pensamentos estava a interrogação: será que voltarei à minha pátria adorada?...)

Depois disto o destemido Dr. Pedro, desata a chorar, imagine o jovem revolucionário tão corajoso, temperamento generoso, forte, arranjava forças para resistir às torturas inimagináveis por muitos, que ele tinha passado em alguns momentos de sua vida, era capaz de morrer do que entregar quaisquer que fossem de seus companheiros que compactuavam com seus ideais!...

(Qualquer semelhança, um mero acaso, mas se as individualidades são estritamente individuais, algumas histórias humanas continuam com suas semelhanças incrivelmente muito parecidas)