VÉU NEGRO
Cobriu o rosto com um véu que ia até perto do queixo escondendo as lágrimas que não queriam descer pelo seu rosto. Sentia, sentia muito a perda, ele se fora, sem dizer adeus, apenas partiu numa tarde de sábado, enquanto deslizava pela lagoa em seu pequeno iate. Não estava sozinho, aliás, isso não era novidade, havia sempre uma linda mulher ao seu lado, lhe sorrindo e fazendo caricias, e aceitavam seus chamegos e presentes em troca de alguns carinhos mais intimos. Raramente a mulher do véu, apenas uma ou duas vezes, no primeiro Natal que passaram juntos, só os dois, em uma noite lindamente estrelada com a lua refletindo todo aquele amor. E outra vez, tarde de domingo em que ficaram olhando o sol se por alaranjando a água que embalava os dois.
Agora não sentia nada, nem tristeza, nem mágoa, nem remorso, apenas cumpria seu papel na sociedade, uma viúva, lindamente jovem, que perdera seu amor, ainda cedo, e que, todos sabiam não ser só dela, mas o silêncio era maior, e nem as amigas podiam revelar, afinal sofriam também seus conflitos, mas agora, estava livre, e rica, e poderosa, e...
Então, por baixo do véu negro, sorriu...