Desencontros em Familia
Quando era jovem, mais precisamente na época de adolescencia negra, quando era inocente e ao mesmo tempo ousado, quando tinha idéias completamente inanas e inconsequentes. Na época que os problemas pequenos eram grandes e que estava construindo o meu verdadeiro ser, eu tive um irmão.
Era uma amizade inocente, bem coisa de criança mesmo, brincávamos, pegávamos nas mãos um do outro, nos falávamos todos os dias, sentíamos aquela necessidade de proteção e ciúmes, quando o outro encontrava outrém. Brigávamos de tempos em tempos, mas no geral nos amávamos...
Com o tempo passando e a inocencia sendo substituida peça luxúria e pela curiosidade dos hormônios, perdemos contato. As brigas eram frequentes demais, o interesse nos outros era maior do que em nós mesmos. Os últimos encontros não foram dos mais infantis, me lembro que foi quando descobri que meu irmão, era na verdade, um homem.
Os anos se passaram e deixaram saudade. Nossas personalidades se moldaram conforme as experiências que tivemos naquela época, e nossos valores de certo e errado, construidos pelo que nos fazia bem ou mal.
Até um dia... naquele dia que a saudade da inocencia, da infantilidade e dos problemas pequenos quase nos mata. No dia que abrimos o albúm de fografias, o diário antigo e cartas de era uma vez. Nesse dia, ele, meu irmão, entrou no msn.
Quando vi o aviso, já senti o frio na barriga e a necessidade iminente de voltar às raizes, de teclar lembranças e de sentir o carinho incondicional tão raro nesses dias. Já com a emoção antecipada transbordando pelo ladrão, o cumprimentei.
Quando iniciamos a conversa, já estava totalmente contagiada pela felicidade de finalmente matar a saudade desse homem, que já me fizera tão bem no passado, e que hoje mal posso dizer que conheço. A medida que ele respondia minhas perguntas cotidianas com interesse semelhante, senti liberdade de abrir meu coração, de falar o quanto tinha sentido falta do meu irmãozinho em todos esses anos.
Sempre tinha sentido falta dele, era algo constante em mim, mas nunca tinha tido a coragem para correr atrás e retomar o contato. Agora que ele aparentemente havia me aceitado de volta, senti a culpa por ter demorado tanto para tomar a iniciativa.
Até que perguntei por sua mãe, que também teve participação fundamental na minha criação, e perguntei se ela ainda morava na cidadezinha de Cajamar, onde tinha ido tantas vezes visitar e passar noites na casa deles.
Dai meu mundo veio abaixo... "Cajamar, minha mãe nunca morou lá....". Pronto, meu sorriso foi encoberto pelas núvens da incerteza, e mais algumas palavras, e tive a certeza, aquele Luiz que conversava tão entusiástico comigo, não era meu irmão, era apenas mais um Luiz com quem cruzei uma vez e que por acaso tinha no meu msn.
A vergonha deste momento me fez desconectar o msn naquele mesmo instante e bloquear aquele infortunado que me fez acreditar que ainda podia ter um irmão. Um amigo que não iria me levar a mal nem mesmo quando cometi o mais tolo dos enganos, e que iria me abraçar neste momento de desilusão, dizendo que iria ficar tudo bem, e que na próxima, iria ser tudo melhor... até o dia que eu resolvesse tentar reaver o contato novamente...