LUNA,  A  DEUSA


_Meu Venerado Pai, a Maestra da nossa Tribo, que a Deusa a bendiga, disse uma coisa que nos deixou admirados.
_Que vos disse Jenusca Petrus, meu Segundo e Amado Filho?
_Foi na Capela dos Dizeres, quando à noite fomos à Varanda Sagrada orar à Deusa Luna. Como sabe, ontem a Deusa mostrou-se no seu esplendor estando toda iluminada pelo brilho do Deus Hélio. Jenusca Petrus olhou-a e disse:
_'Como deve ter sido bela a Luna, a Deusa, no tempo em que era completamente redonda...'
_Meu Venerado Pai, que queria a nossa Maestra dizer? Falei com o meu Amado Primeiro Irmão sobre isto e ele disse-me que talvez Jenusca Petrus esteja com os Delírios que antecedem a Grande Viagem.
_E tu que pensas, meu Segundo e Amado Filho?
_Não acredito que a nossa Maestra esteja com os Delírios, meu Venerado Pai. É muito jovem ainda, apenas 23 translações completas...

Polux Major olhou para o seu Segundo e Amado Filho e viu a curiosidade nesses grandes olhos amendoados. Afagou-lhe os cabelos anelados, acobreados como os da sua Bela e Amada Esposa.
_Meu Segundo e Amado Filho: a tua atenção à Hora da Oração e que te despertou a curiosidade, leva-me a pensar que estás preparado para saberes mais um pouco sobre o que para todos nós, é a nossa História.

Tríudus Feldspato Major completara 10 translações completas havia poucas Lunas e era um rapazinho arguto, atento e estudioso. Olhava para o seu Venerado Pai por quem nutria um amor profundo. Polux Major era afável, inteligente, culto. Tinha sido ele que traduzira o Livro que fora encontrado nas ruínas do Templo da Ciência no que fora em tempos Londoni, a Grande. Para isso teve de estudar pelos seus meios e esforços a língua a que ele chamou de Inglisha, por ter ouvido os seus avós a referirem-se a essa língua do passado. E eles ouviram falar dela dos seus avós também. No entanto, Polux Major, não tinha a certeza de ter feito uma tradução correcta, havendo tão pouco para comparação.

_Meu Segundo e Amado Filho: segundo a Tradição que circula entre os Mais Velhos e que aos poucos os Mais Novos vão conhecendo, em tempos idos os nossos antepassados foram demasiado longe na exploração dos recursos do Planeta. Espalharam-se por toda a sua superfície e esgotaram-na. Lutaram barbaramente por espaço, por água, por comida. Milhões morreram nessas lutas fraticidas a que chamavam de Guerras. Depois da VI Guerra Planetária pouco ou nada restou e os poucos sobreviventes refugiaram-se no subsolo onde sobreviveram graças aos hidropónicos, que tu tão bem conheces. Ali, com muito esforço, foram lutando e desenvolvendo a pouca tecnologia que lhes restou. Passadas muitas gerações voltaram à superfície que estava a recompor-se das agressões humanas. Mas o Planeta estava esgotado no que diz respeito a minerais. Precisavam desesperadamente de minerais para poderem continuar a desenvolver a tecnologia.
_Meu Venerado Pai, porque é que o meu Amado Primeiro Irmão não sabe ainda o que me está a contar?
_O meu Primeiro e Amado Filho nunca mostrou interesse pelos acontecimentos passados. Ele está mais interessado em desenvolver as Matemáticas Superiores.
_Meu Venerado Pai, os nossos antepassados encontraram minerais... Diz na publicação 'Retalhos de uma Ciência Perdida' que obtiveram minerais. Mas não diz como nem onde.
_Com a Ciência que tinham e que desenvolveram no subsolo, construiram uma Nave e foram a Luna, a Deusa.
_A Luna, a Deusa?
_Sim, foram até lá e encontraram minerais. Trouxeram alguns. Construiram mais Naves e regressaram. E por milhares de translações completas foram e trouxeram minerais. E cada vez mais Luna, a Deusa, foi ficando menor e esburacada, perdendo a sua forma redonda. Com isso perdeu massa e o seu afastamento é cada vez mais acentuado. Com a alteração da sua massa e da sua órbita, todo o nosso Planeta se revoltou; as marés tornaram-se imprevisíveis, os Oceânus transbordaram uns nos outros. As placas tectónicas moveram-se descontroladas dando origem a grandes explosões do que os Antigos chamavam de Vulcânus. Cinzas e fumos cobriram os céus. O solo tremia furioso e desta vez não foram as Guerras mas sim o Planeta e a sua Luna, a Deusa, que os derrotou. Hélio cerrou os olhos para nós e o frio regressou.Nós somos os poucos sobreviventes, como sabes.
Quando era jovem fui com o Maestro, o Venerável Pai de Jenusca Petrus, a um lugar distante a que ele chamou de Francia. Andámos muitas Lunas e chegámos a umas ruínas que ele disse serem de Pári. No meio das pedras havia uma construção em metal, barras de metal. Estava bastante torcida mas dava para perceber que era grande, muito grande. Fazia lembrar a Torre que temos para vigiar o fogo da Florestiem. Um dia, quando tiveres 20 translações completas, se eu não tiver partido para a Grande Viagem, levo-te lá para veres as maravilhas do passado...

Olharam um para o outro com o grande amor que os unia e Tríudus Feldspato Major assentiu baixando a cabeça. Juntos seguiram para o refeitório comunal onde a refeição da tarde já estaria pronta e servida pelas mulheres da Tribo.

Beijinhos,
Teresa Lacerda
Enviado por Teresa Lacerda em 04/10/2010
Reeditado em 05/10/2010
Código do texto: T2537822
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