Estações
Chorei rios até que as lágrimas secassem, sentei-me a beira da fogueira e olhei o fogo consumindo a madeira em brasas. Naquele momento sentia que a desilusão me consumia tanto ou mais do que o fogo era capaz de consumir todas aquelas toras. No fundo, bem no fundo de toda aquela balburdia, sabia que o possuía ou ao menos que em algum momento dessa história já o havia possuído e sido dona de seu carinho e toda sua atenção.
Senti-me desnorteada. Não sabia o que fazia ali sentada diante de uma fogueira de acampamento, chorando lágrimas mudas, deplorando meu egoísmo e meu sentimento de posse. Eu sabia que naquele céu estrelado, havia ao menos uma estrela, a qual não pertencia a ninguém, e aquela era minha e toda sua existência fora para mim, mesmo que eu não tenha reparado nunca em seu brilho oculto, ofuscado pela luz que meus próprios olhos almejavam. Eu queria que essa estrela agora não estivesse no céu, mas no seu coração e então ele seria meu e eu seria dele.
Chorei até que não houvesse mais tempo para chorar, até que o dia em raios apaixonantes viesse acordar o meu amado, ofuscar a minha estrela, me fazer ver que não se pode possuir pessoas e não se pode desejar o seu carinho. Naquele momento daria meu ultimo suspiro por uma palavra de amor. Poucos passos, talvez três ou quatro, um abismo para quem ama e quer sentir-se sempre protegido sob o olhar do amor. Poucos anos, talvez dois ou três, um abismo para quem ama e vê o amor impossível ir embora a um cavalo branco levando os sonhos de uma vida à garupa
O sol surgiu, secou as lágrimas. O tempo surgiu, ressecou o coração de quem já amou, uma e uma única vez de verdade. A chuva surgiu, molhou as plantas, amoleceu o coração, molhou a face pouco a pouco, limpou todo o rastro de tristeza. A primavera chegou, e de novo o verão, o outono e o inverno.