DISCURSO DE UM POLÍTICO NO PARANÁ – PR.- LIA LÚCIA DE SÁ LEITÃO -30/09/2010

Todos sabem que vivo colhendo alguma história inusitada para dar boas risadas. Desta feita me prego em pé num cantinho de uma praça ouvindo o discurso de um político candidato a cargo estadual, seria meu candidato e eu falo a verdade estava entusiasmada com a proposta e mais, de tão interessante eu sabia que aquele homem falante me faria transferir o título que ainda não transferi de Florianópolis para nenhum lugar, na verdade nem fui buscá-lo na regional eleitoral. Dívida com a festa da democracia, sei não, vejo essa festa meio de soslaio, queria ver festa realmente Democrática se o voto não fosse obrigatório e o cidadão fosse às urnas por livre e espontânea vontade e não por livre e espontânea pressão.

Todo mundo sabe que sem aquele tiquetizinho que é dado depois de sair da urna eletrônica a mais moderna do mundo, o cidadão pode fazer concursos públicos, pedir aposentadoria, essas coisas que políticos inventam como benesses e na verdade não se configura nada disso. Melhor parar por aqui e voltar lá no meu candidato político, não adianta mesmo escolher, escolher e escolher o menos ruim colabor com os discursos que são sempre o mesmo, saude, educação e segurança pública, agora tem o lixão, a bomba silenciosa de todos os municípios brasileiros. Bom, que adianta ter hospitais, médicos, e trelelê e trololó se a prevenção não existe, ninguém combate doença só tenta curar depois de instalada. Mas isso não me cabe discutir.

O candidato que eu estava toda alegrinha, aquele que eu ia conviver os quatro anos sem ele me desapontar fez uma alusão às drogas: sabe que gostei? E começou assim, gente do meu Paraná tenho o firme propósito de fazer guaridas (não leia guaritas) de cem em cem metros de distância por toda a fronteira aonde o tráfico de drogas é livre, não construirei muros porque fica muito dispendioso, mas manterei os saldados bem alimentados para não desmaiarem segurando fuzis e não sejam motivo dos traficantes recolherem as armas alegando que são armas de contrabando. Não permitirei a canabis, nem pra fazer chá para as velhinhas que se sentem mais firmes e dinâmicas, quem quiser se sentir forte e ativa compre e beba energético do Paraguai, o melhor é o que dá asas, assim as velhinhas saudáveis ficam zem sem precisar de alucinógenos.

Caríssimos eleitores sou candidato de vários mandatos, minha profissão é ser político, já construí cidades e perdi a conta dos parques industriais para favorecer empregos, claro que levei algum dinheiro para a minha conta bancária, afinal implantar tantas indústrias e não poder usufruir de uma viagem ali para a Argentina é anti democrático, se trabalhei mereço também receber pelos meus méritos de distribuir terras para industriais.

Agora nesse exato momento venho apresentar-me com o compromisso de construir uma ponte maior que a de Guaíra para o conforto de todos vocês. Nesse momento o público ouviu alto e em bom tom um assessor falar junto ao microfone, deputado, nessa terra não tem rio caudaloso, nem largo nem fundo, tem um Corguinho que os meninos vão brincar de pescar a Iara, aqui tem sim, mas o aqüífero Guarani, este é o maior reservatório de água doce do planeta, mas infelizmente esta debaixo da terra. Amigos, para a minha alegria e o progresso da região, o deputado respondeu, meu assessor está me informando que aqui não tem rio, mas que grande absurdo! Meu ideal é abrir poços nesse aqüífero Guarani deixar a água jorrar como fontes luminosas e fazer nascer um belíssimo rio de água doce, que vai circundar o Paraná e não vai dar no mar de uma vez que outros estados da federação não querem dividir o lucro do pré sal, também é só nosso o novo rio Guarani que vou criar para passar debaixo da ponte que terá o meu nome, homenagem depois que morre é pra político besta eu quero é ter meu nome na ponte enquanto estou vivo.

Amigos, encurtando o discurso porque tem outros correligionários. Desejo alertar todos sobre minha atuação comunitária dentro dessa cidade!

O grupo de jovens da Igreja me pediu pares de botas para trilha na mata de pinheiros para colherem as pinhas e fazerem decoração de Natal, eu dei as botas.

O grupo de rapazes atletas, futuros jogadores de futebol da região me pediu bolas profissionais para treinos e um ônibus para levá-los aos locais dos jogos, sinceramente o ônibus não estava dentro das minhas condições porque sou brigado com o prefeito, mas as bolas todas e em quantidade mais que a CBF eles tem para treinar, dar e vender.

As prostitutas pediram apoio médico construí um consultório particular e mandei meu cunhado atende-las com retidão e respeito.

Os gays pediram passeata gay estou providenciando até o dia da minha vitória.

‘ Senhores e senhoras o que mais me comoveu não foram as doações que fiz aos gays, ou as prostitutas, ou aos jogadores, ou ao povo dessa cidade, mas sim a forma como eu ajudei os idosos dessa cidade, as mulheres do conselho do bairro me pediram máquinas de costura porque as suas já estão gastas e com defeitos, no local essas máquinas são importantes pois atendem enxovais para os filhos das mães solteiras, enxovais para noivas pobres, artesanatos, roupinha de inverno para as crianças largadas na rua tudo aquilo que se possa fazer com as máquinas de costura, a comissão veio até meu gabinete e me prometeu mais de mil votos se assim eu os ajudasse e eu mesmo fui na loja, paguei, coloquei dentro da minha camioneta mandei assar dez costelões, mandei cozinhar cem quilos de batata e mandei fazer uma maionese firme e forte para comemorar o evento, aproveitei e falei algumas poucas palavras, antes que os costelões esfriassem.

Fiz os assessores levarem máquina por máquina para o palanque improvisado pelos moradores do bairro e eu mesmo num arroubo de cidadania tirei as máquinas das suas caixas, levantei uma a uma, mostrei ao público pei e dei para aquele povo que tanto carecia desses objetos.

Amigos, sai do meu cantinho feliz, vi um homem sério, sincero, apanhei um adesivo e colei no vidro do carro mais próximo ao meu, respirei fundo e pensei ainda bem que voto em trânsito.

Lia Lúcia de Sá Leitão
Enviado por Lia Lúcia de Sá Leitão em 30/09/2010
Reeditado em 30/09/2010
Código do texto: T2529689
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