Por um minuto eu pensei que fosse você!

Entrou porta adentro e se direcionou a mim como se me conhecesse. Como isso é comum por eu ser recepcionista não dei muita importância. Estava escrevendo algo e, ao mesmo tempo, respondendo a ele, de cabeça baixa, quando levantei vi um moço bonito, vestido com uma jaqueta preta, e um capacete nas mãos. Como costumo fazer, olhei nos olhos daquela pessoa e te vi. Nunca vou me esquecer daqueles olhos... Olhos acesos, pedintes. Parei. Meu mundo por um minuto se calou e deu espaço a uma grande, esperançosa, dolorosa... Ilusão. Corri meus olhos pelo rosto daquele moço, e com o coração acelerado ia respondendo as perguntas que ele me fazia, com um “Não sei!”, deve ter pensado muitas coisas de mim, inclusive que eu era idiota, ou que pelo menos não preenchia aos requisitos de uma secretária convencional. Ele sorriu... E sorri com ele! No final disse, como que dizendo pra mim mesma, o quanto aquilo tudo era complicado. E era mesmo. Mal sabia o que acontecia comigo. Recusei-me a parar de olhá-lo. Os pacientes que estavam na recepção ficaram a admirar aquela cena, para mim patética, para eles engraçada, mas bonita. Ele também me olhava. Eu de uma forma diferente e inescrupulosa fixei meu olhar em seus lábios, e queria muito que eles estivessem grudados aos meus. Os teus versos não saiam de minha cabeça, e serviam de “trilha sonora” para aquele momento mágico, não com e para o outro, mas com o único, pois até o presente momento os olhos daquele que estava diante de mim, eram os teus. Como que em um pedido de socorro olhei para a minha amiga que estava sentada a minha frente, ela sorriu e me respondeu. Quando ele se virou para olhá-la tive a chance de revista-lo por inteiro, e o fiz. Ele era um sonho, literalmente um sonho. Ao mesmo tempo em que pedia para aquilo tudo acabar, pedia para que ele não saísse da recepção. E os pacientes, fieis à novela que viam, pareciam que não queriam sair dali, visto que o Dr. chamava-os para a consulta. De alguma forma aquilo tudo me fazia bem, na verdade, me fazia bem pensar que aquele que estava diante de mim era o amor da minha vida. A sensação de perdê–lo era angustiante, um nó na garganta. Mas porque isso agora? Que sentimento doido é esse que me invade? Não era ele! Eu sabia, mesmo assim a vontade de estar em seus braços por pelo menos um momento, era incessante. Ele sorriu, e se foi... Fiquei paralisada por uns instantes, eu, os meus “expectadores”, pois não pararam de me olhar um segundo, até que ouvimos o motor de sua moto ser ligado e ele sumir dos meus olhos para quem sabe, nunca mais voltar a vê-lo. Para eles, era como se a novela tivesse acabado na melhor parte, com expectativas, desejos. Eles queriam, faltaram me falar, para ir atrás daquele rapaz, mas eu só sorri. Uma até soltou: “Ele gostou de você!”, porém o sonho já tinha acabado. Fiquei pensando. E se fosse ele? Seria realmente daquele jeito? Teria o sangue frio de me ver congelando pouco a pouco na sua frente e não fazer nada? Não... Penso que não! Com ele seria muito mais do que foi. Talvez Deus estivesse me testando. Talvez Ele quisesse ver minha reação, e viu, viu que teria um ataque e morreria ali mesmo. Por isso tudo ocorreu! Caí em mim... Depois disso, pus-me a escrever!