O Demônio Guardião CAP.III

Havia surgido entre eles uma espécie de tranquilidade passiva permeada por uma tensão latente, encoberta por sorrisos e palavras amigáveis, ambos procuravam se proteger escondendo seus sentimentos um do outro.

Depois de um breve período de afastamento tornaram a se encontrar no local de sempre, ou seja, na pequena mesa de dois lugares onde ele costuma se sentar para tomar um café tão negro e amargo quanto seu mau humor nas segundas-feiras de manhã.

Como sempre ele estava sozinho se perguntando por que se impunha tamanho sofrimento todas as manhãs bebendo aquele café horrível e grosso como óleo de motor , quando ela parou de pé por trás da cadeira a sua frente como sempre fazia antes de lhe dar bom dia , ele ergueu seus olhos negros injetados de sangue pelas noites mal dormidas e depois de responder o cumprimento fez sinal com a cabeça para que ela se sentasse.

Como sempre ela estava linda com seu estilo esportivo despojado, usava uma correntinha de prata trabalhada no pescoço com um pingente em forma de cruz, vestia camiseta branca de alcinhas revelando seus braços nus, cobertos por uma adorável penugem dourada.

A camiseta valorizava seus seios pequenos e firmes que não necessitavam de sutiã para se sustentarem, uma calça de taktel vermelha com o cós dobrado revelava uma barriguinha sarada ornada por um piercing pequeno e brilhante a calça se adaptava perfeitamente ao contorno em forma de coração de suas nadegas torneando suas coxas grossas e musculosas, calçava rasteirinhas de palha que havia comprado de um hippie em um balneário conhecido por suas dunas de areia, seus pés pequenos e delicados estavam pintados com uma tatuagem de hena em estilo tribal de cor azul escura.

Seus olhos verdes brilhavam como duas esmeraldas recém-lapidadas os cabelos compridos e aloirados estavam presos em um inocente rabo de cavalo muito sexualmente sugestivo.

Ela sorria sem parar enquanto falava , ele ouvia e concordava com um hum - hum levantando a sobrancelha esquerda enquanto sorvia sua dose de veneno matinal. Transpirando saúde e vitalidade, sua sensualidade juvenil o incitava e incomodava tudo ao mesmo tempo, sentia o peso da idade e do cansaço das noites de insônia sofridas por ela, além disso, havia o mau- humor de sempre, estava decidido a não demonstrar boa vontade com ela naquela manhã.

Resmungando uma desculpa esfarrapada sobre um compromisso qualquer pediu desculpas e já ia se levantando para ir embora quando ela o surpreendeu ao segurar seu pulso direito com carinho e delicadeza lhe pedindo para sentar e ouvir o que tinha a dizer com voz séria e suplicante, seus olhos o encaravam implorando por atenção, ela precisava de ajuda, ele ainda tentou ignorar, mas não conseguiu dar as costas aquela que sempre o deixou para trás. Com ar de contrariedade se sentou com os braços cruzados sobre o peito e perguntou o quê a afligia tanto a ponto de pedir ajuda a um demônio velho e cansado como ele , ela riu e seu riso o desarmou , quis saber o motivo da risada e ela lhe disse que não o achava velho e muito menos cansado, talvez sujo e mal-humorado, não gostava quando ele deixava de pentear o cabelo e nem quando deixava a barba por fazer, parecia um bicho com aquela cara feia e fechada deveria sorrir mais de vez em quando, ficaria bem melhor, as mulheres gostariam mais.

Seus olhos se arregalaram de surpresa e admiração nunca antes ela tinha lhe dito essas coisas, ele sabia o que ela estava fazendo e por isso soltou uma risada alta e desavergonhada passando os dedos das mãos calejadas pelo cabelo negro e revolto as esfregou no rosto como para espantar o sono, colocando os cotovelos sobre o tampo da mesa apoiou o queixo sobre os punhos deu inicio ao seguinte dialogo:

Desde quando você se importa com a minha aparência?

Também apoiando o queixo sobre os punhos ela respondeu sorrindo:

Desde sempre!

Ele:

Logo você! Que nunca se importou muito comigo.

Ela:

Claro que me importo contigo!

Ele:

Nunca retornou meus telefonemas e nem respondeu meus e-mails,

Ela:

Não podia!

Você sabe que eu não podia!

Ele:

Dispensou minha atenção e meu carinho,

Disse-me que era melhor eu me acostumar a viver sozinho, pois nunca seria querido por alguém.

Ela:

Você nunca seria só meu!

Nem meu!

Nem de ninguém!

Você pertence a si mesmo e a nenhum outro!

Você sabe disso.

Ele:

Sei!

Agora aparece me dizendo o que fazer para agradar as mulheres, mulheres que, aliás, você mesma espantou dizendo por aí tudo o que podia dizer de ruim sobre mim ou achou que eu não ia ficar sabendo disso hein?!

Ela:

Eu não podia deixar as outras levarem o que era meu podia?

Tudo isso foi dito de forma tal que quem estivesse sentado na mesa ao lado acharia pelas gargalhadas e risos que os dois seriam um casal de namorados rindo de alguma piada obscena.

alexandre l tartaglia
Enviado por alexandre l tartaglia em 27/09/2010
Código do texto: T2523510
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