Marques de Sade
Existem muitas referências à Sade, iluminismo, revolução francesa, em contraposição à moral cristã.
Quando em Sade o homem natural, proposto pela Revolução Francesa, não precisaria das garantias de uma moral revelada, momento em que aparece o ateísmo como proposta de uma nova moral. Proposta que o marquês tentou levar às últimas consequências.
A possibilidade trazida pelo materialismo emergente do iluminismo, de uma sociedade sem Deus, muda os padrões morais, até então regido pela religião. A sociedade em estado de imoralidade permanente seria a utopia do mal:
Segundo Sade, a sociedade estando livre da hipocrisia, faria com que seus membros pudessem aceitar todos os seus desejos. Para Sade o tédio decorrente de se guiar pelo bem é que ocasionaria o mal.
Nascida do tédio e do desgosto de Sade surgiu assim uma proposta de uma sociedade em estado de criminalidade permanente. Nela perpetuada transgressões que recriariam infinitamente o desejo, satisfazendo assim a verdadeira natureza do homem.
O ateísmo do libertino teria um caráter de provocação à Deus, como meio de forçá-lo a provar sua existência. Desta maneira não seria o prazer pela libertinagem que moveria Sade, mas sim a idéia de que o mal independe da vontade de Deus..
Essa religião do mal não consistiria em pregar o crime como uma filosofia, mas sim admiti-lo como sendo produzido pela existência de um deus infernal, visto que a universalidsade desses desejos comprovaria a sua existência.
Esse deus infernal refutaria a dinâmica do sacrifício do inocente para a salvação do culpado, e reafirmaria o contrário: exaltar a necessidade da injustiça de Deus para a completude do homem.
Sade dizia " sou feliz pelo mal que causo aos outros, assim como Deus é feliz pelo mal que me faz " (...) " , portanto tudo deveria ser mau e insano como o próprio Deus que ele concebia.
Para Sade, o sujeito justifica seus atos de libertinagem como sendo bons, porque tais atos são prazerosos e tudo isto está sendo inspirado pela natureza do homem.
Sade é completamente contra a moral de sua época e pretendia, por isso, criar uma nova moral em que somente os excessos seriam permitidos, sem qualquer virtude ou religião que permeassem a ação individual, e que no fim de cada ação teria o prazer.
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" Aos libertinos (Prefácio, de Sade) "
"Voluptuosos de todas as idades e de todos os sexos, é a vós somente que dedico esta obra; alimentai-vos de seus princípios que favorecem vossas paixões; essas paixões que horrorizam os frios e tolos moralistas, são apenas os meios que a natureza emprega para submeter os homens aos fins que se propõe. Não resistais a essas paixões deliciosas: seus órgãos são os únicos que vos devem conduzir à felicidade."
Para Sade as ações dos homens deviam ser sempre direcionadas ao prazer, esquecendo-se da moral e das virtudes religiosas tradicionais, vigentes do século XVIII, que impediam os excessos.
Segundo ele, as virtudes calcadas na moral religiosa, são contra a natureza humana, impedindo-o de ser feliz; como exemplo disso, se tem o seguinte caso: se o homem desejasse possuir uma mulher, não podia deixar de fazê-lo, se ele enfraquecesse, resistisse, ou destruísse esse desejo estaria indo contra a sua própria natureza.
No que diz respeito ao homícidio, ele afirma que ao cometer um homícidio, o homem só está deixando a natureza agir nele, pois é a própria natureza que o aconselha, então ele não deve sentir remorso algum, porque apenas seguiu o que sua natureza desejava.
Enfim, ele enxergava nas práticas de seus delitos uma forma de conservar sua própria natureza, ou seja, ao praticar o adultério, o incesto, o roubo e a sodomia, assim só estaria-se realizando os desejos naturais considerados próprios do indivíduo. Com isso, ele diz que todos os excessos libertinos são questões fundamentadas na natureza.