Um Gay em Copacabana
Um Gay em Copacabana
Ele chegou. Mas não chegou de qualquer jeito. Veio com roupas leves balançando ao vento! Tinha uns gestos delicados e as crianças do Rio de Janeiro achavam tudo aquilo uma beleza incomum. Passava as tardes andando pelas areias do mar, com o seu chapéu branco e um anel dourado com pedras azuis, da cor dos seus olhos.
Tinha por volta dos seus cinqüenta anos e uma pele que brilhava ao toque dos raios de sol de Copacabana. Ficava horas com o olhar ao longe, talvez lembrando um grande amor do passado.
As crianças vinham brincar com ele e os pais, que também admirava o seu porte, sorriam da felicidade que era ver aquele ser esvoaçante ao lado das crianças e com a mesma pureza de alma.
Seu olhar tinha um brilho tão intenso, que ao vê-lo tinha a mesma sensação de estar olhando para o próprio mar. Não era morador da cidade. Vinha a cada temporada, mas quando chegava era como se o mar acariciasse o seu filho pródigo.
Nunca tinha companhia. Todas às vezes que vinha ao Rio de Janeiro era sem companhia. Era um homem que ninguém conhecia, que não sabia seu nome, nem de onde vinha nem para onde ia. Só sabia que ele amava aquele mar e o mar o amava com a mesma intensidade.
Corria pela a areia, brincava com o vento e a chuva nunca vinha enquanto ele estivesse no mar. Ninguém via, mas quando o seu olhar estava jogado ao mar, era um jovem que ele via.
O jovem tinha pele branca, usava roupas e chapéu branco e sorria sempre para ele pedindo para vir ao seu encontro. Todas as vezes que viera a praia recusara-se a ir ao encontro do marinheiro que o chamava, mas desta vez estava disposto a ir com ele.
Já havia programado este momento, mas não queria que as crianças o vissem sumir nas águas, pois não desejava que nada toldasse a beleza que imprimira na alma dos seus pequeninos.
Chamou as crianças e também chamou os pais dos seus pequenos anjos e disse-lhes que precisava de rosas de muitas cores para jogar ao mar. Abriu sua pequena bolsa, tirou alguns trocados e pediu-lhes para que comprassem as suas rosas prediletas. Além das rosas, puxou da bolsa um envelope decorado com letras douradas, que já estava amarelado pelo tempo e pediu para um dos pais que se acaso não o encontrasse quando voltasse, jogasse-o ao mar.
Quando todos saíram, o gay de Copacabana olhou novamente para o mar e viu o marinheiro chamá-lo. Correu para os braços do rapaz de branco e desceu às águas, feliz!
Ao longe, podemos ver as crianças correndo com as mãos cheias de rosas para abraçar o gay de Copacabana, mas ao chegar vê apenas ondas brilhando ao sol e batendo lentamente na areia.
O envelope dourado destaca-se na mão do pai e ele tem a certeza que na sua mão está um segredo de toda uma vida. Pensa em abri-lo, mas resiste! Acha que esta história deve acompanhar o seu dono na viagem eterna! Joga-o ao mar enquanto as crianças jogam as rosas ao mar e todos são agraciados com a mesma paz que possuía o Gay de Copacabana.