O porta retrato

Fechada desde 1980 a casa velha e quase caindo não era visitada sequer por animais. Apenas teias de aranhas e poeiras modificavam a paisagem natural do lugar.

Passados estes vários anos chegou naquele pequeno lugar um andarilho, que, por instinto, deixou cair próximo à entrada da velha casa uma mala também velha e sem alças.

Abriu a mala, retirou um porta retrato também velho e sujo e pé ante pé entrou naquela casa, arrancando poeiras do chão e das paredes, com o seu andar forte.

Chegou perto de uma única mesa no centro do primeiro cômodo e colocou o porta retrato sobre ela, contendo a fotografia de uma família.

Olhando para a mesa, foi retornando devagar, procurando a saída e também pé ante pé, levantando novamente a poeira, deixou aquela casa velha, levando a mala sem alças.

Velhas recordações foram passando pela sua memória. Lembrou da casa, que era habitada por uma família de velhos que lhe acolhera quando era jóvem e sem ninguém. E agora só existia aquela casa velha e o porta retrato.

Depois de andar por cerca de dois quilometros pensou que não deveria ter deixado o porta retrato lá na mesa e voltou para buscá-lo.

Mesmo cansado retornou àquela velha casa para buscar o porta retrato que seria a sua única recordação, mas foi surpreendido ao ver que a fotografia não era a mesma e em seu lugar estava a imagem de um céu azul coberto de núvens brancas.

Lúcio Flávio de Albuquerque
Enviado por Lúcio Flávio de Albuquerque em 25/09/2010
Reeditado em 25/09/2010
Código do texto: T2520530