Sadismo

SADISMO

Ele estava sentado no bar da esquina, esperando por mim. De propósito, fiquei a olhá-lo do outro lado da rua. Como ele seria sem a minha presença e ao mesmo tempo prestes a tê-la? Era interessante ver a expressão do seu rosto agora, os seus braços cruzados, uma das pernas pendendo para a direita, a outra em linha reta. Descruza os braços, olha o relógio. Vira a cabeça para o outro lado à minha procura. Vejo de relance o seu olhar de apreensão, expectativa, ansiedade. Tudo isso por mim. Eu o torturo com a minha ausência, sem ele saber o observo com um quê de sadismo e prazer. Penso que dali a instantes tudo isso se dissipará, ele se transformará em outro homem, seus gestos serão totalmente diferentes dos de agora. Sinto o prazer antecipado dos seus olhos pousados em mim ao me ver andando ao seu encontro. Demoro mais um pouco, mas já basta. O meu amor só é preenchido com o seu olhar, com os seus gestos, todos vindos de mim, passados por ele, como um rodamoinho que nos contorna. Começo a andar em sua direção. Sinto o meu coração bater mais forte, ele ainda não me viu. Dali a instantes tudo mudará, tudo mudará...ele me vê, seus olhos brilham e eu me transformo numa bola morna, macia. Sorrio para aquele homem transformado e acho graça do meu sadismo.

Diana Taboada
Enviado por Diana Taboada em 25/09/2010
Código do texto: T2520237
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