Ligação para a vida

Catherine estava deitada olhando para o teto, o vento agressivo batia em sua janela no primeiro dia de primavera de uma época remota, muito antes de tudo o que pudesse fazer sentido em sua vida hoje. Os pássaros não cantavam e as nuvens acinzentadas prenunciavam a chuva. É estranho como as vezes o mundo parecia estar exatamente como ela... Dias calorosos e outrora cinzentos, chuvosos, ao gosto de seu humor, de seus sentimentos.

Seu quarto não era pequeno, mas apesar do amontoado de coisas para todos os lados era vazio e as paredes brancas o faziam parecer duas ou três vezes maior. Ela sempre gostou de olhar o teto e as paredes brancas, sempre quis que elas fossem azul Hortência, mas isso nunca se concretizou. No canto mais remoto do quarto um telefone azul silenciava ecoante. Dois ou três minutos contemplando o teto, o tempo, a janela que se revoltava ao apanhar do vento, mas todos os seus pensamentos e expectativas concentravam-se naquele telefone.

Ele não tocou enquanto ela se concentrou nele, foi preciso que ela se desligasse um pouco de tudo aquilo, foi preciso mais do que paciência, foi preciso viver outro momento. De repente Catherine foi presenteada com as vibrações sonoras do aparelho, tão esperadas naquela tarde. Esperou que ele tocasse duas ou três vezes se deliciando com o momento, naquela época ainda costumava se deliciar com cada detalhe de sua vida. Logo depois desse prazer, foi atendê-lo. Não era quem ela esperava, mas afinal, a vida nunca liga dando boas notícias, ela espera que você ligue perguntando sobre elas.

Sah
Enviado por Sah em 22/09/2010
Código do texto: T2514491
Copyright © 2010. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.