Casarão
Estavam sentados em torno da grande mesa, feita de uma só tábua de madeira nobre.
Grande a casa, pé direito alto, construção que mostrava bom gosto. A sala onde alguns beliscavam queijos e grãos oleaginosos, um hábito deles. Oito homens, mas somente um preferiu beber conhaque, naquela noite. Os outros estavam tomando uísque, em copos médios, com muito gelo. Terminada a rodada, a maioria, como de costume, dava boa noite e se retirava.
Palmas e campainha tocando? Àquela hora? Um dos poucos servidores homem voltou do portão e falou baixo ao mais velho, que acabara de colocar seu copo na mesa.
- Um tipo estranho, senhor. Está vestido com uma espécie de túnica branca. Parece um peregrino e tem ótimo aspecto.
- E o que ele quer?
- Pediu pousada. Só quer dormir e amanhã sai antes do Sol nascer.
- Estranho. Traga até a ante-sala. E fique por perto, nunca se sabe o seu intento.
Escolheu uma bengala pesada, ajeitou o robe e aguardou que o visitante estivesse dentro da casa. A um sinal do empregado, foi ao encontro.
Realmente, o tipo tinha aspecto excelente, muito limpo e exalando um perfume completamente desconhecido. Leve e muito discreto, cheiro de homem mesmo. Estava com uma túnica branca, barba longa e usava uma sandália de couro, o mesmo da bolsa que trazia a tiracolo.
- A Paz esteja nesta casa, senhor. Obrigado por atender.
- É hábito neste lugar. Meu empregado disse que quer abrigo.
- Se for concedido, aceito de bom grado. Venho caminhando há muitos anos.
- Toma uma bebida conosco, antes de dormir, peregrino?
- Se for vinho, aceito.
Estranho. O homem tinha um andar como se na terra não estivesse. O olhar inspirava grande confiança. Ninguém lhe perguntou o nome. Quando viu os pães redondos, feitos na casa. Pediu licença e rasgou um pedaço para ele, e fez um gesto que parecia estar convidando a comerem juntos. Provou o vinho, deu logo após um longo gole, quando um barulho se fez escutar.
Era um ruído estranho, muitas vezes seguido de um vento frio. Vez por outra, o fato acontecia no lugar.
- Fora! Este lugar não é para você. Fora!
Ninguém entendia nada. Com quem falava? Súbito, as luzes apagaram.
- Fora! Fora!
E os presentes viram que seu corpo emanava luz, clareando o ambiente. A energia elétrica retornou.
Tranquilo, o homem perguntou se podia tomar mais um cálice de vinho, logo posto no seu copo pelo mais velho do casarão.